sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Sábado do meu carnaval

A meia noite ouvi todos os boleros.
Na alegria dos prazeres inofensivos dancei livre neste bordel que é a vida.
Pelas milongas de todos os santos que falta me faz o homem que não me adivinha.Doces lábios sobre os meus que imagino nesta febre louca.
Depois ,todos os tangos que se seguiram.
O tango adentrou-me toda.Pernas que se fizeram longas,despidas das meias com costura atrás.Eu e o bandoneon na infinita folia do desejo insano,nem sei se por quem partiu ou por quem irá chegar.Dou mil voltas a mais que todas as reviravoltas do destino .
Não importa.Quero arder nesta paixão sem dor,neste fogo anestésico.Nesta euforia redonda que desce quente, me anima em éter gelado , faz meus olhos serem mormaço e meu corpo um delicioso pedaço de mulher.
Quero me avultar impossível,descontrolada,absurda,à vontade dona de todas as sutilezas que não se capturam.
Rica,dona do tempo vadio nesta ficção onde me jogo sem compostura alguma neste clima que me embebe de verão. .
Não encontrei fantasias,nem maravilhas mas a imprecisão a partir do real no espelho que assiste
e me vê como se fosse outra.
Hoje é sábado do meu carnaval.
É.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Imagem no espelho




Barcos de pescadores ancorados.Silenciosos


Querida Querubim-Entregue a própria sorte como é feliz!

Caminha leve o corpo se mexendo dentro da roupa .O vestido de panos de seda abre-se em roda grande na parte de baixo,a cintura marcada,os seios no lugar descansados nas alças fininhas do corpete amarrado atrás feito um espartilho.
A passos pausados caminha pelas ruas de areia ondulando os quadris tornando a caída
da saia transparente sensual, insinuante do contorno do corpo bem feito com formas definidas macias em suas curvas.
Um pouco antes e um pouco depois das horas marcadas no relógio da padaria,não importa.Observa vagamente o tempo, nada a preocupa, deixou para trás as obrigações rotineiras que lhe consumiam a energia.
A cada pedaço do trajeto lhe surgem idéias novas,um volume de palavras que se sucedem em efeito.Caminha brincando ,distraída com a leitura de seus próprios pensamentos..O dia está quente,o sol alto faz tremer fantasmas saídos da poeira fina do chão .Seu ritmo é comandado pelo olhar,detém-se onde há beleza para contemplar.Estica o vocabulário em busca de novas palavras que revelem as belezas escondidas,passa alheia aos olhares dos homens,alerta a percepção da natureza,encantada com os efeitos de luz e sombras das arvores copadas retalhadas em verde e frescor.
Delicadamente arruma os cabelos atrás das orelhas.Amarra com pedrinhas transparentes
um rabo de cavalo baixo na altura da nuca.Sob os cabelos corre um fio de suor que se evapora na brisa.
Sensações são palavras vivas em seu universo intimo.O roçar das coxas úmidas por sob os panos muda o rumo do pensamento.Quase que deixa de pensar,sente uma onda gostosa que lhe sobe pelos quadris a dentro.É pura volúpia. que pulsa, escondida na linha secreta de seus desejos,um milagre em cada gesto de seu corpo..O relevo dos seios em suave balanço,o sulco quente do vão das axilas nuas sugerem mil movimentos possíveis e deliciosos,exalam tons de fragâncias diversas,se fazem em música,dança,harmonia possível nas pisadas leves da calma presença .
Entregue a própria sorte como é feliz!-agora sim entrou em um mundo além das palavras.
A beira d’água ,sózinha na praia deserta,desvencilha-se das sedas que lhe envolvem o corpo.Desamarra os laços das costas.Afrouxa o espartilho e por cima tira o vestido.
A seus pés um amontoado de panos.As palavras desaparecem
Só o mar límpido e sereno menos quente que o ferver de gosto entre suas pernas.
Seu corpo maduro e o mar dialogam em um verso de prazer,ela gosta disso,dessa entrega sem pecado,acolchoada pelas ondas suaves em cadência de balé.
O azul transparente,cintilante,um espelho que a duplica em metamorfose .As palavras sem espaço entre as linhas perdem-se no infinito do horizonte.
A enseada plana e êrma,a maré subindo,o conforto da brisa.Tudo é azul.
Barcos de pescadores ancorados,silenciosos.Um par de olhos acompanha os movimentos doces da moça vestida de mar e algas,brilhante deusa dos corais.
O mar liso,aberto em flor de espuma.