segunda-feira, 29 de junho de 2009

Querida Querubim--Quanto custa?

Acordo pela manhã para ver de que azul esta o céu.Erra quem pensa que o amor acontece normalmente.A multiplicidade singular do amor,a espera da hora do espetáculo.A força serena de viver os sonhos.Ouço Santana,é..."e ver através dos seus olhos coisas que quero ver"...
o alento da minha oração/"não posso esquecer o sabor da sua boca".Lips,lábios,palavras lindas...
lips,lábios.Combativa para ser feliz patino a vida na superfície do gelo e danço,danço Santana.Tempo lindo,aspecto de paraíso é este estar assim mordendo a pêra madura,macia.sem medo da tentação.O ritmo que se me apodera,um tipo de frenesi,incrível magia do corpo que me faz sentir solta,linda,arteira.Anjo,seguro meu coração entre as mãos para ser suave,acreditar nesta loucura.A língua passa de leve para humedecer os lábios.O quadro de copos de leite.O acorde sujo,dissonante.Adoro voz de homem sussurrando no meu ouvido.Adoro ouvir.E dar o corpo à pegada que diz-"diz que estou vivendo".Amor se faz com calma e mãos fortes.
Sigo as emoções,é o pecado que não sinto,trago à flor da pele o papel forte do amor na verdade que arrepia quando não se contem.Aflora,sempre, do meu íntimo esta moça rebelde e entende de escrever a vida como bem entende,surge em intensidade sensual e mística.Toda viagem uma lição de vida.-Tudo é breve neste meu estilo enfático.O sentimento de estar junto e separada.Tenho muito a dizer mas nem sempre a quem dizer.Silêncios e subentendidos.ele evita falar,penso que é para não fazer perguntas.Meus artifícios,me protejo melhor porque digo a verdade.A estranheza do otimismo retardado me incomoda,esta tendência tudo bem,bem mentirosa.A vida é dura.Senão nem seria Querubim!...e ser mulher,então,buscando a leveza da alma e estar com tudo em cima no corpo sarado martiriza.Viola o direito básico de ser naturalmente feliz.Quanto truque,quanta armadilha sorrateira nas mulheres plasmadas a frio para mentir nos outdoors.A coragem é que acorda meus suspiros.Vivo à parte,no mundo da sensibilidade mas é dramático quando a insegurança bate à porta e me condena a abandonar as delirantes fantasias para sair com urgência e todos os dias em busca do dinheiro para manter o clima,a casa,o cão,a beleza,o espírito que se alimenta de música,arte,livros,aromas,sabores,viagens.A falta de dinheiro obriga-me a abandonar a delicadeza e voltar-me ao instinto.
_Quanto custa?

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Querida Querubim-O caminho





Não existe um caminho.Ir,ir sempre.Impossível voltar pelo mesmo caminho.Que se cumpra chegar onde devo.Paisagens são paragens do olhar,efervescências como a vitamina C na água transparente.Passam.Paixão é esta fricção da alma com o mundo que me cerca.Acredito em mim.Ir é ter fé,mesmo que indefesa como uma criança.A viagem me torna adaptável às circunstâncias,maleável e receptiva.É vida.Tenra,com a frescura do ser,os olhos brilhantes pelo prazer das novidades,pelas surpresas.Atenta e flexível para contornar os riscos e desafios.Viajar é vencer a vida nos próprios passos.
-Por onde vou se me distraio em brincar pelo caminho?A paisagem se altera a cada minuto.Luz e sombra,o passar do vento,a um tempo a brisa,os pássaros que riscam o céu.Tudo é trânsito,tudo muda,a paisagem aparece em um sol abrasador e se oculta em uma noite tenebrosa.Caminho transformista.Mergulho nas profundezas psicológicas.Nem sempre o relato das viagens é o contemplar da paisagem.Passo pelas pessoas,as muitas pessoas que encontro por aí , das quais me faço delas e a elas dou um pouco de mim.Passo enquanto elas permanecem em seus próprios mundos que conheci na tangência de turista.Sou toda os outros,vigília aberta para não me perder de mim.Na ausência das datas e dos beijos que me servem sou saudade,amor,oásis no deserto.
-O que existe no fundo dos mares e do oceano?
Passo por cidades esquecidas por Deus,lugares sem nome,pessoas em cujo rosto leio histórias,animais cativos em pastos e quintais.Rumor de cachoeira,auto estrada,avenidas em horário do rush.Rumor no quarto ao lado do hotel duas estrelas onde um homem ofega no ritmo do prazer de uma mulher.Rumor de idiomas diversos nas Tvs de bares,cafés,albergues,hotéis de luxo.
Escrevo para me entreter,escrevo por que duvido de mim.Através da escrita me reconheço.É como se ao me escrever eu criasse o espelho das minhas perplexidades.Escrever é o meu caminho.O fio que me conduz é a tinta da caneta.Visível em azul escuro ou preto como um rio que brilha em noite de lua cheia.Escrever é o meu valor.Criar é o exercício da verdadeira arte altruísta.Pensar para aprender o sentido da vida -o provisório sentido da vida,uma marca que caminha e vai mudando de lugar,se estica.O sentido da vida é ser longe para se encontrar,um elástico flexível que alonga-se para buscar a cor do texto nos horizontes da estrada.
A poeira que o vento levanta até onde o olhar alcança.O rumor do vento em fúria de tempestade.Flores e folhas se esparramam cíclicas,tudo sai de seus lugares.
Os peixes na peneira,a lama do fundo dos lagos,os restos dos homens livres.A sardinha assada na brasa à moda portuguesa é lembrança.Seria mais fácil se eu não pensasse.O apetite após longa caminhada,passos de ver vitrinas.Olhos de encanto .Comer é pausa,expressão da querência de saborear.
Passa o tempo e nem percebo.-Será que assim não envelheço?
Ninguém pergunta se estou triste ou feliz.Aos que viajam as perguntas são sobre lugares:de onde viemos e para onde vamos.
O altruísmo da arte,a música que chega de todos os lugares penetra na minha alma e segue comigo companheira de viagem.E me concilia a outros a outras,agita meu corpo que dança mesmo que ninguém perceba.Tudo tem um sentido.E me olho com o excesso de bagagem.E me olho com as palavras que vou deixando pelo caminho.Viagem é perda,desapego,leveza, passatempo.Em companhia do vazio o compasso da realidade inconclusa,o despertar da confiança na afeição.Amar na soleira melancólica do olhar sem corpo rente para tocar,abandonando amanhãs na maviosidade aberta do verbo amar.
Assim vou achando caminhos.
O eco do grito entre as montanhas.
O túnel claustrofóbico,o jeito infantil de cobrir a cabeça para ficar segura e não ser descoberta.O frio da passagem pelo túnel escuro.Água pinga em enchovia.Túnel húmido,abafado,condutor de medos.A travessia .Águas estagnadas.Percursos sombrios.
Tenho sorte minha alma anseia por luz.
Assim vou deixando caminhos para trás.Sou só eu no dia seguinte.No momento seguinte.
Aproveito a sensação de não ter pressa nenhuma.Os momentos em que não preciso dizer nada.As noites em que recordo toda a vida.A bondade que encontro na infância,o gosto por um elogio sincero,o beijo de minha mãe antes de dormir,as leituras com meu pai.
Tenho sorte eles me fizeram acreditar.Acreditar que posso.
E posso.
Faz parte da minha natureza saborear a vida com esperança e o que não sei invento.E posso.
Viajar tem gosto de para sempre.
Agora chove,chove torrencialmente,a água lava os caminhos.
E tem coisa que só Deus sabe.