quarta-feira, 8 de junho de 2011

...Sobre o amor e amar


...sobre amor e amar

Caminho pelas ruas acordadas da cidade. No IPOD, anos 80 e seleções que se alongam em minh’ alma à dentro revirando em ondas o sangue vivo,vibrando em vocação apaixonada.Elvis e Marlene Dietrich ,Luis Melodia e Ana Carolina,Caetano Veloso canta Nature Boy e Marisa Monte e Cesária Évora se entendem lindamente.E Besame Mucho em tons que arrepiam. Nina Simone, sua voz quente, e nos passos de ver a vida de trás para frente ouço apaixonadamente Love me Tender e fecho os olhos para me entregar a Stardust na voz de Rod Stuart.Seria bom estar a menos de um milímetro de um beijo prestes a ser um acontecido acontecimento.

Quase danço, transfiguro a realidade em prazer. Quero viver sem ameaça alguma, atravessar a rua de olhos fechados confiante de que o vermelho do sinal me protege. Estou feliz com este delicioso e absurdo som, aciono o time da vida neste elegante aparelhinho da Apple, meu broche sexy vibrando poesia em meus ouvidos, flutuo sem que ninguém perceba.Faço amor na frente de todos ,descaradamente ,e ninguém se dá conta deste amor que transborda e empapa em suor a malha de lã,o corte na virilha da calça jeans.Ninguém se dá conta que amar é um estado absoluto de feliz presença ,uma gota de leveza neste alvoroço ,neste caos profundo e desumano do existir.Minha natureza abre-se a vida assim,é deste jeito que eu sou...

Gosto de reticências é meu tempo mudo quando lhe ofereço o espaço para você preencher. É meu estilo de manter um diálogo com você sem nome que me lê e se toca com o sussurro falante que disparo em flechas para sua alma. Uso travessão mesmo quando falo sozinha. Sou eu minha hóstia, ponho reparo no mundo a todo tempo, o tempo todo. E ligada ao som que me extasia, quase ausente deste corriqueiro de luzes do semáforo me movo entre o céu e o caminho dos cães, dos pregões baratos, das pessoas que não se vêem indiferentes aos desejos naturais.

Viver é liturgia.

Minhas botas de salto, altas com fivelas prateadas, a canela fina envolvida em meias de nylon, longamente as coxas.

Ingênuo sabor fatal, o beijo quando dá certo.

Recolho sentimentos para que não me abandone o coração. Recolho o sangue quente de viúva, estou madura quero me repartir com doçura e algo selvagem me arrebata em instinto e toca a planta carnívora que me encanta.Ouço a impossível voz de amores desdobrados em cantos,óperas,harmonia distinta dos que se aventuraram em cozer a vida com paixão-a trama do destino dos que arriscam tudo,pouco ou quase nada.

O amor que me leva a realizar minúcias, a esculpir um homem com as mãos nuas. Nada é simples, amor é rococó, paredes que desaparecem, estradas que se abrem, camadas de tecidos macios para arfar, brincar e se entreter com o tempo sem cálculo à resposta do corpo a carícias .Os beijos é com doçura que se dão...os abraços a tensão mágica do desejo...rio de alegria...choro em de repente...meu amor é meu amor e está vivo anunciando o esplendor do coração que pulsa e faz o desejo se erguer enervado...esse tanto de amor que não envelhece.

Amar , um movimento de amplitude,não restringe,liberta,oferece espaço para ser feliz.Amar é a arte de se completar nas diferenças.É dom, talento que abre as comportas da generosidade da existência,organiza as gavetas da alma com leveza e desprendimento.É um sentimento preciosíssimo ,um cofre de certas coisas que permanecem secretas e de outras que viram fotografias.Nesta vida dispersiva e superficial amar é porto que acolhe bons e raros navegadores de águas profundas .