quinta-feira, 30 de abril de 2009

Querida Querubim-Amantes

"Andábamos sin buscarnos pero sabiendo que andábanos para encontrarnos"
Cortázar,Rayuela
São quase dezenove horas,há três horas ela conta o tempo de espera por ele.A noite deve abençoar em sombras daqui há alguns minutos.Hora em que ele deverá chegar em sua casa.
Preparada para lhe servir encantos e prazeres, naquele quarto dos fundos que agora se assemelha a câmara de amor de um castelo,tal o requinte com que preparou o cenário e invocou as deusas para a celebração da oferta de seu destino.
O impulso cego que os tornou amantes na intensidade de um amor impossível.
Seus corações batem em melodia sublime.Certeza e tensão expressa em desejos que se completam em sensualidade erótica e êxtases incorpóreos.A chama vermelha da paixão acesa em pétalas pelo chão,a chama azul tremula de amor,dançando nas velas dos castiçais.A chama dupla da vida.
Se necessitam e se socorrem nas satisfeitas urgências que se oferecem.As ideias num mesmo clarão de pensamento.Unidos nesta vida pela conexão fugaz de amantes.Intensos e exclusivos um do outro.Assim ela acredita e sem ser assim seria uma história nascida morta.
Ele pertence a classe dos moralistas na aparência ,busca romance,essência.Sua rotina é monástica.Dorme antes da meia noite e acorda pontualmente ás cinco horas e trinta minutos,nem um minuto a mais e nem um minuto a menos.Seus dias são presos ao automático dos dias ,à fuga da falastrona mulher a incomodá-lo cobrando-lhe vigia.Os ardilosos pretextos de inocentes escapadas com o cão na coleira,os negócios sempre além do horário do expediente,as inúmeras reuniões,o encontro nos clubes.Entre eles o perene duelo cansativo e frouxo,os gritos impacientes tomando conta das salas,de todas as salas.O histerismo devorador de griffes e dinheiro,todo e muito dinheiro em notas grandes,cartões de crédito.As compras, um mix insano do exagero.
Toda esta situação lhe amargava a alma,toldava-lhe o semblante,fatigava-o.Ele precisava de um refúgio,um canto de paz.Quer se envolver com alguém que lhe atenue as dores,trazendo-lhe novo vigor e outras emoções.-Mas como sair por aí catando mulheres,experimentando aventuras? Não.Ele queria aquela mulher que o arrancasse deste sombrio estoque de vida mal vivida.
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A mim, o trajeto do desencanto perdendo em ilusões e histórias não correspondidas a ilusão do perene.
Não fiquei nem mais ,nem menos triste,fiquei leve pronta a tornar-me sua amante.
Nos queremos assim, sem nos transformarmos em coisas.Existia uma profundidade misteriosa entre nós,sendo ele homem de economicas palavras.Quieto e claro
A vida com ele dançava à minha frente enquanto ele me provia de cuidados e me encaminhava em abraços a seguir sozinha.Estruturava minha liberdade,oferecia condições ao meu voo e incentivo ao meu espírito escorregadio.
Impregnada nele,dele,minha alma sorria,falava,cantava,dançava e, sem medo eu me abria para tudo,o avião que me levava,as terras novas que descobria,as emoções serenas,o céu.
Compunha sinfonias dos versos do caminho, rumores da distancia,as diferenças que se abriam nas fronteiras dos lugares por onde me alongava em ofício de escrever.Escrevia nas madrugadas e pelas manhãs bem cedinho anunciava o dia com um poema novo que lia ao telefone.
Ele ouvia calado.
Às vezes eu interrompia a leitura e perguntava:-você está aí?,tal era o silêncio que me chegava de sua alma.
Nas noites em que nos encontrávamos tudo era dia e transpirava luz e brincadeira.Um giro estreito em bocas que se buscavam,avançavam querendo outros cantos de maciez.
Encontros leves,tudo se desfazia em imagens que tento reter sem alcançá-las,escapam ligeiras em ritos de prazer, ecos...
Um amor de bem estar,bem amar,bem viver.
Em casa ele ficava à vontade.Deitado na minha cama olhava para o teto do quarto,os braços dobrados sob a nuca,um pouco reclinado.Buscava o infinito.`As vezes eu o pegava olhando meus passos e aí displicentemente eu o provocava tirando aqui e largando ali ,ou lá, alguma peça de roupa.O cálculo do instinto vem com sabor e ritmo.Este ritual de despir-me deixáva-nos excitados .Em cena ,nós ,dois adolescentes desfrutando das emoções tardias,na força do impulso amoroso que nos arrancava da terra, e nos envolvia em amor.O tempo desaparecia na unidade dos nossos corpos,na fusão total das nossas almas,a morte.Sem esta morte a vida esta vida que vivemos não é vida.O amor é um regresso à morte...a boa morte onde tudo deixa de existir.Tocávamos o núcleo mais íntimo de nossas existências.
Nossos pedaços de noite exclusivamente dedicados ao amor.E tudo era bom.Quando ele se despedia e descia pelo escuro até a rua eu fechava os olhos para aprisionar toda aquela sensação de permanência.Ficava assim até a música parar de tocar.
Essa sou eu.Esse é ele.
E posso sentir que nesses momentos o mundo parava de girar .
Recolho-me ao eixo do silêncio e sou só um coração que bate.Sou uma prece.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

domingo, 19 de abril de 2009

Ave Madonna !

Ela surge em traje preto,vestida de luz própria.Aquele espartilho de cetim rosa-pele,o enchimento no peito pontudo,presilhas da cinta liga abertas.Calcinha sobreposta nas pantalonas de seda mole e pura.A engrenagem nunca mais foi a mesma depois de Madonna aparecer, desaparecer,aparecer.Som que reverbera pela casa.Instinto é atrair pessoas que precisam de amor como eu preciso.Não estou em lugar nenhum.Quero amar.Alguém chega.Alguém sai.Eu constante.
Faz tanto tempo que chupei um picolé de groselha e quase parti os dentes de leite quando mordi a maçã do amor num parque de diversões.
Enquanto alguém sobe,alguém desce.
Acho que estou feliz.Da felicidade nunca tenho certeza da tristeza sim.
Aparelhos de Pilates são sensuais.
Quero meus cachinhos loiros de volta.Estar vestida, bem vestida é profundamente sexy.
O chamado do skype.Espero que tudo esteja bem.A chamada insiste. Agora não,por favor.
As datas,hoje não preciso delas.É outono.
Sexy é não se despir no show.Joelheiras,ombros mandados fazer sob medida em musculação.
Acessórios ,chapéu,luvas,chicote.É bonito o colete ortopédico quando visto êle gosta.O espartilho de renda marca a cintura e com infinitos colchetezinhos envolve paciência para despí-lo.
Quero me divertir com óculos de grau.
Ele me ama,ele não me ama,nunca sei.Nem o mal me quer,bem me quer me dá a reposta.
Lacinhos no decote,pueril.
E que tal se eu escolher um nome falso?-Uma mistura de masculino e feminino e que não seja José Maria e nem Maria José.
Sempre dou o melhor de mim.-A quem importa?
Voz grave,olhos sensíveis..
Tenho o meu jeito de fazer e desfazer.
Malas,a vida,a bolsa de mão,o tricot quando o ponto escapa.
Sutian com recheio e seios de silicone real sensíveis ao toque.
Echarpe de seda pintada a mão.Foulard grená escorregadio.Tarde azul ,só azul.
Rayban negro.
Secador de cabelos no coiffeur.
-Qual a razão de existir?
Vento frio na noite de lua cheia.
Leio Hilda Hilst e me sinto cheia de vergonha com o despudor inocente do Caderno Rosa de Lory Lamby.Mesmo assim adoro Hilda Hilst.
A nudez consumida matou o apetite,deixou o desejo insaciável.
Castigado pelos excessos o nu,espalhado pelas ruas,out doors,lounges benevolentes e macios,meninas permissivas.Um descarnar-se das coisas e sentimentos na intimidade das casas, nas cachorras dos bailes funk,nas trips das favelas.Nos livros ,revistas,músicas,jornais.Nas esquinas onde meninos viram meninas.E as meninas viram bonecas feitas para brincar.
Sexy é estar vibrante em carne viva.Lipstick lesbian,um poema que escrevi já há algum tempo.As rosas vermelhas loucas.Aos pares.Os beijos de baton.
Chick list , a speed tribo de garotas modernas,nem tão garotas assim do seriado Sexy in the City.
Nada muda.O roteiro é o mesmo dos romances açucarados de M.Delly em sua coleção das moças antigas.Livros do meio do século passado em que se detalhava o farfalhar do chamalote,a vertigem dos encontros de amor,as sebes que escondiam os beijos secretos.
Por email chega a novena de Santa Therezinha com a recomendação de enviar para doze pessoas,nem mais nem menos.Escolhi mulheres apaixonadas.
Chique e chato é quando tento entender que ninguém me paga pelas palavras,possuo nobre acervo que optei por distribuir pelo meus seguidores , sensíveis em reconhecer valor em algo insuspeito que palpita. E já que é assim escancaro esta fumegante e fantasiosa liberdade que assopra os medíocres do meu caminho.
Santa Therezinha me proteja hoje e sempre.Amém.
Meu humor oscila.-O que não oscila neste mundo?-Movimento pendular.
-Qual a razão de existir?
Não é à toa,mesmo sendo à toa.A razão é o movimento.Algo sempre tem que acontecer.
Sempre estou a espera.Existir me parece que é esperar existir.Um relógio maluco como o do coelho de Alice.
-Quem mexeria com a minha cabeça?
Aposto corrida com o tempo e não quero.Quero saborear a calma e a contemplação.
Espectadora da beleza , a suavidade faz parte do meu estilo.Ouço Diana Krall e John Pizzarelli,
o jazz de cada noite antes do dia.O filme francês.A bacia de pipoca.Ouço Cole Porter.Embebida em doses maciças de blues e Pink Floyd,o embalo da dança,o coração de alguém,o meu coração é música de afeto .Longe ,na memória , ficou o tesão com tempo e desfrute.Perfume de laranja e gengibre.
Caixa antiga de figos açucarados,deliciosos ao romper dos dentes.
Coração ardente .Eu quero um viver interessante com argumentações e novas perspectivas,além do narcisismo do intelecto à mostra na tela do computador e do corpo se reconhecendo em seu visual no palácio dos espelhos.
Amor e amor.
Cabelo comprido,salto alto,vestido e às vezes nuca a mostra,smoking e meia arrastão,sapatos grosseiros,botas longas coladas acima da curva do joelho.Chapéu.
Fiz-me assim depois que tirei a emblemática aliança de ouro da mão esquerda.Neste mundo descontínuo lutando para ser jovem ,bonita bem sucedida e feliz...feliz...como se isso fosse possível nesta identidade fraturada em milhões de fragmentos se tornando em pó,depois silêncio, agora o sopro que apaga tudo.
-Por que falo?-Por que escrevo?-Que importância tem se penso ou sonho?
Madonna é vital,guerreira ,vencendo o esgarçar doído da idade a se desfazer no tempo.
A cada idade nova que surge ela se recompõe,se reinventa,faz seus ossos novamente e novamente...como ela quer a eternitude!Transforma a realidade num permanente estado de festa.Celebra o ato de amor em cópula estética com milhões de pessoas ao redor do mundo.Vestida,particularmente vestida ela trepa no palco solamente e sola desvairadamente ,se entrega e se possui a vista de todos e tantos que a devoram na tônica pagã de seus olhares.Acelerada Afrodite.Lilith celebrando seu poder em rajadas de energia sexual impúdica ,femeálica,tempestuosa de plena afinação com seu ser indomito e raro.Busca insana de quem vive em carne e ossos perecíveis.Ao fundo a denúncia da solidão,da angústia existencial desesperada,da alma feminina abortada sem conexão.Bela,exuberante em sua exibições ilimitadas .Rainha do universo pop habita o vazio com as mãos perfumadas,os lençóis imaculados e o sangue inflamado que cria a si,presentifica-se.Seu destino em irremediável isolamento,sua torre de marfim,seu mundo pasteurizado,asséptico com fronteiras esfumaçadas e limites avançados.Atesta sua autoria transmitindo ao vivo a vibração de um tempo em que homens se entregam a homens e mulheres buscam a si mesmas em outras mulheres.
Lente poderosa lhe serve o olhar com que se vê no espelho ao colocar as vestes que a tornam sedutoramente nua,vestida de ânsia de vida,vingança . Seus símbolos,suas estratégias irreverentes ,sua juba leonina desafiadora.Ela e suas fragilidades e desencantos,depressões,paixões desvairadas,finitude obsessivamente colocada em cenas vitais intocadas de beleza erótica.Linguagem que seu corpo domina e fala com a voz que canta.
Ela e seu potencial de ilusão assumindo o vazio da tradicional família decadente,dos adolescentes queridos carentes,dos perdidos na noite e na vida,das mulheres,dos homens,dos homens -mulheres e das mulheres- homens.A explosão catártica de seu explosivo grão de loucura.
Agressiva,doce,irônica,deusa na noite escura do eu.Eu que posso tudo que me ultrapassei além da visão aguda ,dilacerada.Fantástica e sobrenatural.Uma mulher à margem em uma época em que o estio alargou a margem do rio.
Superou a insignificância ,desprezou o estreito e metamorfoseou o tempo e o espaço na medida surreal de submetê-los ao delírio show dela ,deusa viva e seus súditos.Ave Madonna!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Querida Querubim-Fluído aceso da vida

O que se via nela através dos disfarces de suas histórias era uma mulher cheia de vida,intensa,de temperamento terno,de expressivo humor.Abriu caminho no mundo explorando a linguagem dos sentidos.Provou a vida com animação.Esteve onde queria estar.Viu o que queria ver.Se entregou a letra de todas as músicas nas cordas do sexo com emoção.Todos os dias,todas as noites,todos os caprichos.Dançou sob a luz dos luares e das velas.Dançou a vida,brilhou com as estrelas,escreveu o amor em narrativas líricas,deitou-se sobre as páginas sedutoras do erotismo.Inventou o que não sabia,improvisou,modificou sua cor,seu gosto,seus ritmos e intensidades.Voou longe daqui,buscou nos braços dos anjos a suave loucura e a tristeza gloriosa.
Vida sem dia seguinte,sem eira nem beira,mas feliz intensamente feliz.Uma brincadeira.
Entre extremos,nada morno,raso,três horas da tarde,sopa de aveia.E mudou situações,aprendeu a ser real com as ilusões,viver agudo.
Quando ele se anunciou em sua vida ela pensou ,havia chegado a hora de sua redenção.Estava livre.Não trazia nenhum amor guardado no peito.Seu corpo amadurecera,agora mais pronto a dar respostas de prazer,mais disponível a festa ,rico em ousadia.O romance prometido acordou
seu desejo de ternura.
Mulher de madureza explícita tivera aventuras sexuais,tornou-se uma criatura aberta,além das planas superfícies das aparências,buscou o gosto pelos prazeres de essência.Defendeu em si a sementeira do amor para o tempo semear.Aprendeu a distinguir as exigência da pele
e os profundos mergulhos do espírito.Na verdade nada a atingira em profundidade,estava a espera para viver um grande amor.
Sua realidade era de uma mulher quase que intocada,de aura inatingível,uma estrela.Desejava centelha,sensações mais profundas,laços,dia seguinte e seguinte e seguinte.Precisava de calma,alívio,estremecimento.Queria sentir.Compartilhar sua vida com alguém.Sentir.
Nesta espera tornou-se música,harmoniosa nos gestos,sensível a poesia,culta,preparada para encontrar pessoas,ser amiga e receber amizade.A vida uma parada rock.Rolou pedras e destino e com o mundo girou,girou,girou.Parecia mais uma edição do vento assumindo forças diversas pelos lugares por onde passava.Ora brisa serena ora indomado vendaval.Interpretada pelo vento não lhe coube censura mas somente liberdade.Se multiplicou em graça e instinto,desperta para as vibrações dos nervos,das fibras,da sensualidade pulsante,fluido aceso da vida.