segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Querida Querubim-A espera

Ela fuma uma cigarrilha de sálvia.
O aroma da erva queimada espalha-se pela sala e mescla-se ao incenso de sândalo que queima lentamente.Odores de acento marcante.
Olhos baixos em versos livres de espera sem espectativa alguma.Espera vazia em que o tempo longo escorre pelo espelho.Não intenta decifrar o destino, cheia de preguiça, o sangue quente lhe aconchega as entranhas.E corre por veias e artérias um desejo manso por doses de carícias.Sua natureza inteira de nudez velada pela seda macia de cor tênue e fugidia.Suas formas de mulher, seus vales, colinas, florestas, a delicadeza do umbigo redondo, nem fundo nem raso.A curva das axilas lisas com cheiro de pele, deliciosamente naturais.
Um fragmento de um poema longo quer chegar na pausa do cérebro.E passa fugaz.
Ungida por um fluído misterioso de amor num rito de cortesia serve-se de vinho fresco de cor encarnada e sabor forte.Precisa de exaltação física e espiritual neste abandono a letargia.
Um estado de felicidade indefinível,o desejo refinado pela espera.
Idolatra o amor que a redime dos homens e a aproxima dos anjos.Voa como um anjo belo seduzida pela atração do encontro que faz palpitar seu peito.O amor é a prova que a enobrece.
É uma mulher não uma santa.Sente coisas entre o prazer e a dor.Ensimesmada estende sua imaginação pelas paredes do cômodo cor de rosa decorado com quadros sensuais de casais em mandalas amorosas..O que lhe toca são corpos que ondeiam febris nas duplas chamas de suas fantasias.Ela longa,estendida entre as almofadas frias de cetim salmon.
Seus dias.
O barulhinho da água percorrendo os canos da casa.O tic tac do relógio.
O bocejo.O espreguiçar de gato.A penugem das coxas.O ventre em concha de receber. Os seios em bicos de doar.
A espera.
Este sentimento estranho com seu cortejo de emoções,sensações,obssessões.As curvas,os portais do corpo,os dedos a passar docemente pela nuca.Os fios longos dos cabelos espalhados em desordem arrumada.
As peras em calda na taça de cristal, o aroma de licor e cravo da Índia.
Rosas sem espinho no jarro, pétalas caídas sobre a pequena mesa de canto.O labirinto da solidão desafia a busca pelo sonho.A essência do amor em estado artesanal.
Ela ama.
Fez-se assim, sem fadiga, no conforto das horas sem pressa, deu-se o direito ao prazer.As meias finas de mulher repousam na banqueta de veludo bordô.
O copo d água pela metade, o retrato com o vestido de festa.As paredes cúmplices.Um conjunto de forças sutis e impregnantes que a servem enquanto espera.
E espera.

6 comentários:

roberto aguirre molina disse...

hermoso texto! saludos de ram!
http://www.animalesenmasa.blogger.com.br/index.html

Estela disse...

Que bom que tens um Blog e que eu o encontrei. Tenho teu "Livro de Rua" e, gosto de tua poesia.
Te adicionei ao meu blog.
Um grande abraço.

Estela de Siqueira (também sou Siqueira)

Anônimo disse...

D-i-v-i-n-a-l!!! Texto lindo, delicioso, que me transporta para outra "dimensão"; que me "aquece" a alma com as magníficas e doces descrições...
CN

EMESILVA disse...

Entrei por acaso...e gostei do que vi e li....parabéns.

vou passando.

Unknown disse...

dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras mas nesse caso mil palavras valem muito mais do que uma imagem pois expressam antes de td sentimentos sejam eles em versos ou em prosa

Anônimo disse...

Querubim selvagem e indomável, não sabes que a espera é o combustível para um alvorecer mais belo. Hoje és querubim inocente e no seu dia de espera intolerante.