quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Querida Querubim-Colagem

Collage-M.Paumarch-www.llibertatatrebill.blogspot.com

Combinar o trabalho diário com o agito que ferve,largos desejos e limitada capacidade de realizá-los,compromisso e liberdade,fazer e ócio,entusiasmo e tédio,construir e desconstruir,liberdade em segurança.O amor confuso entre entrega e defesa,confiança e dúvida,lucidez e loucura,perguntas e respostas,valor.Penso demais ,amo demais,crio demais em meu over mundo.
Canso.Canso demais.Como se sempre fosse o último dia de Carnaval.É a vida que amo tanto.Este viver que me esgota.Cumpro as obrigações e sei que com alto custo,a medida do meu preço.Sou cara porque sei o valor do ócio,do tempo aéreo da inspiração,da energia gasta para ficar no mundo da lua.Reservo para o meu desfrute as madrugadas depois pago o preço das manhãs esticadas em sono culpado,a pressa para zerar as contas.
O cansaço da ciranda de desejos.Entendo Buda só não consigo alcançá-lo.
Sou racional,base do comportamento que me distingue como exemplar.E louca...de lírico otimismo e espontaneidade ,me movo com a energia de que tudo dá certo ao fim.Vou sem planos,acesa com o desejo de sucesso em busca do efeito pretendido.Sucesso que tem a ver com o
destino sem controle a favor da novidade e encantamento.Sucesso que tem a ver com tesão.Tesão de ver o resultado bem ao gosto de minhas férteis exigências.É este processo que pago com os meus tostões,meu dinheirinho dos alfinetes,meu investimento pessoal na caixinha da Dona Baratinha.É na sinceridade do instante transbordante em vibrações insanas e coerentes
que seduzo e contagio como consequencia da ação palpitante.Que delícia quando percebo e sinto que muitos querem "palpitar" comigo,compartilhar desta orgia do fruir sensível do intelecto,da sensualidade do prazer satisfeito.Neste instante somos,eu e você,sem medidas,só somos.Nada importa,acontece a intimidade do dar-se.Eu com esta veloz e transparente escrita,você com seus olhos ávidos de algo que lhe tangencie a alma.Palavras ventiladas,entre nós passa o vento e sem culpa dançamos nus pelas pautas da tela.
E vou me fazendo assim.Nem sei como pode.Enquanto minha nuca se dobra a outras versões estáticas do viver,flexível a ouvir,fingir que sou loira e não penso,opinar só quando solicitada mesmo que nunca,submetida com a cabeça oscilante no ponteiro do sim, muito obrigada digo ,mesmo na degustação de sapos.A sobrevivência faz-se assim,hipócrita.E lamento na frágil voz de querubim,inaudível ,sumida ante a expressão ruidosa que enlouquece o mundo.
E daí escrevo,palavras que saem à luz,antes soterradas entre o coração e os pulmões,escoradas nas vértebras heróicas e cansadas.Minha coluna convicta,rígida,inflexível aos embates que ferem a minha natureza profunda não se verga aos discursos que pretendem influenciar o tom da minha interpretação da vida.Escrevo o que meus pais diriam para guardar só para mim ,educada a preservar a "moral e os bons costumes",menina de boa família,filha de gente honesta .Resulto
dos que estudam,trabalham ,são do bem e constroem o país.E escrevo.E pinto.E bordo.E decoro casas.E leio a vida com olhos iluminados.
A semente generosa que brota de mim agora é amor lúcido que purifica e arrebata porque somos acima de tudo semelhantes,loucos para amar sem medo,sem reservas,alertas para não perder o desfrute do paraíso neste planeta Terra.
A linguagem de fragmentos é honesta,fraturada pelas dores,contudo leve,sobre humana.Voz que teima em não se esconder.Afinal o mundo este outro mundo que não o meu,talvez nosso,é indiferente às histórias de amor.E,aos moralistas intolerantes,presume-se que eu escrevo ficção,invento ondas,me obscureço em fantasias de sexo e libertinagem.Deixa pensar.Deixa passar.Todo santo dia percebo um brilho novo em mim ,liberta do jogo das aparências,cada vez mais,o figurino é a nudez transformista em virtude do tempo que passa e altera formas,espaços,tudo.
Este mundo que escorre em tintas dos jornais matinais se revela em ruínas ,falido.Alguns,muitos entre todos,se acham importantes em sua funções de tráfico de influências,drogas,mentiras.
A bomba da ganância e presunção em estardalhaço mortal enquanto a festa continua destemida,energética ,apressada em direção ao derradeiro fim.Fim de um sistema que se invalida pelo astronômico crescimento do plástico,do assombro em dinheiro virtual -será que existe o lastro,o ouro alquímico?
Apaga a luz!-quero brincar de escuro.
Quero a vida larga.Sair ilesa e perfumada desta delirante violência que aturde a perplexa existência neste pujante caos de seres dilacerados,infiéis com sua própria natureza.
O intenso cotidiano transborda no show da artilharia periférica.Besouros despencam do céu.No poder ninguém mais rói as unhas de aflição nem cora de vergonha..
Eu não sou de lá mas este lá me atropela dentro da minha casa com o som alto que chega das ruas,com homens encapuzados invadindo redutos de famílias.O que vejo e me atropela a toda hora são os meninos doentes em malabares prostituídos entre o vermelho e o verde dos faróis,a bacia de lata furada,as feridas dos usuários de craque alucinados a cada esquina.Não é só o que vejo na TV,nos jornais,nos filmes.Estou ali,neste lá que com força arromba a minha porta.Ocupa a minha casa com o medo.A luz dura do medo corta e desintegra o olhar terno e deslumbrado ao pé de maravilha que enfeita meu quintal.E vem a chuva enchente e alaga os noticiários e vejo fogo,fumaça saindo das águas esgotadas em imundícies.O vírus no sujo,urubus no lixão,pessoas encardidas com o corpo espumando azedo e urina.
Pedra fundamental desfez-se em pó .E lama.
Movente entre fragmentos capto o universo milionário de Dita Van Teers piscando luzes do corpo maravilhoso de mulher atmosfera,cintilante,viva em seu significado de deusa deslumbrante,tratada a ouro,artifícios plásticos,e estudada sedução montada no glamour de um fantasioso e nostalgico universo hollywoodiano.Estrela visível em frestas de seda,atiça homens e mulheres ainda vivos,acordados na surpresa de um belo nu.
E tudo corre bem...há água jorrando das fontes e rio limpo banhando Londres e Paris.
Tudo ,tudo é exagero e desproporção.
Apago a luz do abajur.
Longe da faixa de Gaza,do verso inverso de Dubai,dos abutres gordos que se banqueteiam com as crianças da Etiópia,da fumaça dispersa das florestas e cerrados do Brasil.
Desligo...



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Querido leitor,

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Cris )