Quero
Outro momento
...sobre amor e amar
Caminho pelas ruas acordadas da cidade. No IPOD, anos 80 e seleções que se alongam em minh’ alma à dentro revirando em ondas o sangue vivo,vibrando em vocação apaixonada.Elvis e Marlene Dietrich ,Luis Melodia e Ana Carolina,Caetano Veloso canta Nature Boy e Marisa Monte e Cesária Évora se entendem lindamente.E Besame Mucho em tons que arrepiam. Nina Simone, sua voz quente, e nos passos de ver a vida de trás para frente ouço apaixonadamente Love me Tender e fecho os olhos para me entregar a Stardust na voz de Rod Stuart.Seria bom estar a menos de um milímetro de um beijo prestes a ser um acontecido acontecimento.
Quase danço, transfiguro a realidade em prazer. Quero viver sem ameaça alguma, atravessar a rua de olhos fechados confiante de que o vermelho do sinal me protege. Estou feliz com este delicioso e absurdo som, aciono o time da vida neste elegante aparelhinho da Apple, meu broche sexy vibrando poesia em meus ouvidos, flutuo sem que ninguém perceba.Faço amor na frente de todos ,descaradamente ,e ninguém se dá conta deste amor que transborda e empapa em suor a malha de lã,o corte na virilha da calça jeans.Ninguém se dá conta que amar é um estado absoluto de feliz presença ,uma gota de leveza neste alvoroço ,neste caos profundo e desumano do existir.Minha natureza abre-se a vida assim,é deste jeito que eu sou...
Gosto de reticências é meu tempo mudo quando lhe ofereço o espaço para você preencher. É meu estilo de manter um diálogo com você sem nome que me lê e se toca com o sussurro falante que disparo em flechas para sua alma. Uso travessão mesmo quando falo sozinha. Sou eu minha hóstia, ponho reparo no mundo a todo tempo, o tempo todo. E ligada ao som que me extasia, quase ausente deste corriqueiro de luzes do semáforo me movo entre o céu e o caminho dos cães, dos pregões baratos, das pessoas que não se vêem indiferentes aos desejos naturais.
Viver é liturgia.
Minhas botas de salto, altas com fivelas prateadas, a canela fina envolvida em meias de nylon, longamente as coxas.
Ingênuo sabor fatal, o beijo quando dá certo.
Recolho sentimentos para que não me abandone o coração. Recolho o sangue quente de viúva, estou madura quero me repartir com doçura e algo selvagem me arrebata em instinto e toca a planta carnívora que me encanta.Ouço a impossível voz de amores desdobrados em cantos,óperas,harmonia distinta dos que se aventuraram em cozer a vida com paixão-a trama do destino dos que arriscam tudo,pouco ou quase nada.
O amor que me leva a realizar minúcias, a esculpir um homem com as mãos nuas. Nada é simples, amor é rococó, paredes que desaparecem, estradas que se abrem, camadas de tecidos macios para arfar, brincar e se entreter com o tempo sem cálculo à resposta do corpo a carícias .Os beijos é com doçura que se dão...os abraços a tensão mágica do desejo...rio de alegria...choro em de repente...meu amor é meu amor e está vivo anunciando o esplendor do coração que pulsa e faz o desejo se erguer enervado...esse tanto de amor que não envelhece.
Amar , um movimento de amplitude,não restringe,liberta,oferece espaço para ser feliz.Amar é a arte de se completar nas diferenças.É dom, talento que abre as comportas da generosidade da existência,organiza as gavetas da alma com leveza e desprendimento.É um sentimento preciosíssimo ,um cofre de certas coisas que permanecem secretas e de outras que viram fotografias.Nesta vida dispersiva e superficial amar é porto que acolhe bons e raros navegadores de águas profundas .
Expectadora da flutuação do desconhecido mundo que nos acorda em aflição e dor com tempestades, furacões, terremotos, tsunamis e o ar letal em radioatividade.
-Que lição é relevante para a humanidade nestas tragédias que estão acontecendo agora? Com certeza, sairemos mais fortes após entendermos com quanto desprezo tratamos as dádivas generosas da natureza. Muitos ainda ganharão fortunas com esta tragédia e todas as tragédias futuras, outros serão tocados pelo espírito da compaixão, da solidariedade, da volta à simplicidade e respeito.
Tempo de mudança, de reinventar a maneira de viver. Tempo de prestar atenção e fazer o caminho contrário do profetizado bezerro de ouro.
Cansei de estar cansada, cansei da repetição ao infinito de meganúmeros, quantidades absurdas, desproporcionais.
A maxifilosofia do excesso, da nulidade do pensar, do embuste dos ganhos máximos, as pessoas acabam consumindo-se a si mesmas e as pessoas que as cercam. Devemos aprender e ensinar a que se aprecie o que temos, valorizando nossas conquistas, cativando pela boa educação, criando laços de bondade. Ë tempo de amor e presença junto à família. É tempo de abençoar, ser grato e ensinar às crianças a rezar. É tempo de fé.
O que pode ser mais importante nesta vida? Questiono o por que as pessoas agem contra seus próprios interesses. Questões de orgulho arruínam suas vidas. A inveja e a autoilusão levam-nas por caminhos que conduzem a nada. Por que é tão importante manter a autoimagem? Quanto você vale no mercado das aparências?
Por que o ciúmes e a cobiça do destino mais feliz do outro?
No tempo de meu pai, não era preciso elogiar o honesto, simplesmente a honestidade era uma norma de conduta que não precisava de realce.
Bem, tenho a minha própria vida para levar, tenho sonhos pessoais, projetos de sensibilização humana e social em busca de parceiros e é preciso seguir em frente.
Quero fazer acontecer a poética da vida moldando o próprio mundo em que as pessoas vivem... levá-las à reflexão sobre novas possibilidades muito menos angustiantes, preencher com palavras de sentido o tambor oco que lhes ressoa no peito.
Quero receber do tempo as dádivas das lembranças das coisas boas que fiz de fato. Desperta eu também sonho.
Agora no outono, entregue ao prazer da minha casa em Tatuí, sob a guarda de meu fiel Lovan, retorno a este “blog” de um jeito novo, com mais folga para o estilo fluir. O que significa recuperar meu jeito instintivo de ser desde que a chama do tesão de fazer se mantenha acesa. Quero ter bons motivos para escrever, entrevistar pessoas que realmente valham o meu tempo e o tempo da sua leitura.
Gosto do céu azul do outono em Tatuí, o tempo mais fresco que convida a tomar chá, café e a taça religiosa de vinho tinto. Gosto da facilidade com que me desloco pelo centro, usufruindo de ter tudo que preciso à mão. Gosto de meus amigos, da cordialidade dos vizinhos, de conversar com os leitores pelas ruas sem distanciamento. Gosto de pertencer a esta cidade, embora deva confessar que muitas vezes sinto-me desapontada com a falta de interesse e apoio efetivo para concretizar meus projetos.
E quero receber o carinho que mereço de pessoas que eu curto e admiro pela integridade ética, pelo trabalho que desenvolvem, pela coragem com que se lançam à vida. Pequenas atenções me animam a ir em frente, a despeito dos profundos presságios que coexistem no espaço de uma realidade violenta e desumana.