domingo, 20 de dezembro de 2009

Antes de Tudo-Poema de Cristina Siqueira- Ilustração-Estela Siqueira-




Sinto-me honrada e grata em tê-lo como leitor e que sua luz continue a brilhar, a crescer e ser um foco de consciência e virtude a fortalecer o organismo vivo da humanidade na Terra.

Cristina Siqueira



Feliz Natal-2009


Antes de tudo a crença em Deus que deseja que não nos prostremos em amargura*Antes de tudo que a seriedade, seja a nascente da alegria *Antes de tudo que não nos roubem o direito de ser feliz*Antes de tudo que brote de nossos corações o entendimento das dores e que sejamos compassivos*Antes de tudo que saibamos discernir o discurso falso em meios ambíguos da verdade que sentimos com a nossa intuição*Antes de tudo que saibamos interpretar e exigir atitudes em favor de nosso País*Antes de tudo que saibamos dizer basta*Antes de tudo que saibamos devolver o que não nos pertence*Antes de tudo que saibamos cobrar nossos direitos e exigir respeito às nossas posições* Antes de tudo que o outro,o semelhante,se torne em nós sangue ,mesmo que não lhe saibamos o nome, o número,ou o saldo em sua conta bancária*Antes de tudo que cada um de nós consiga interpretar o livro aberto e claro do planeta em todas as matas,rios, mares,cidades,bichos ,pessoas,coisas,pedras,nuvens e flores*Antes de tudo que haja interesse em nos salvar desta realidade funesta e alarmante do desequilíbrio climático*Antes de tudo que a pressa não engula o curto espaço de tempo que temos para brincar ,rir,cantar,viajar,contemplar,curtir a conversa fácil,o filme bom,a leitura do livro prometida*Antes de tudo que não sejamos explorados,injustiçados ,debilitados por um sistema que nos suga e nos torna impotentes e sem reação*Antes de tudo que nos honrem com boas escolas,bom atendimento médico,alternativas de lazer e saúde,cidades saneadas*Antes de tudo que os Anjos nos protejam e os policiais sejam confiáveis,pagos justamente para nos defender*Antes de tudo que se inclua música e poesia no currículo escolar para despertar sensibilidade e de fato uma transformação social de valores éticos e estéticos*Antes de tudo um verso...o poema de amor que abranda e conclama a vida*Antes de tudo o respeito aos motivos superiores que aproximam os seres amorosamente*Antes de tudo a rosa vermelha o envelope com nome simples e conteúdo dedicado*Antes de tudo a natureza feliz dos desejos que nos tornam prósperos,espontâneos,com alma nova para viver*Antes de tudo eu ser em si você,em ti eu ser o sou de mim*Antes de tudo esta correspondência plena,esta simbiose abençoada do saber entre o que escreve e o que lê*Antes de tudo este acerto merecido do destino,este presta atenção e resolva-se por uma vida mais simples com valores nobres e jovens em sua reedição no agora*Antes de tudo a luz do ocaso no prenúncio da lua cheia*Antes de tudo animar as esferas do viver com esta declaração de graças,com este render-se às alegrias*Antes de tudo manifestar a silenciosa corredeira do amor para lagos de abissal serenidade e voos de projeção sideral*Antes de tudo,tudo,tudo,que se tenha intenção de transformar este agora,esta herança de Deus,este futuro imediato em união para somar e dividir*Antes de tudo agradecer pelo aprendizado,pelas experiências que nos tornam em seres melhores e evoluídos*Antes de tudo agradecer pessoalmente,por escrito,por email,com um gesto de carinho aos atributos e talentos de todos os profissionais conscientes que nos servem com atenção,gentileza,sabedoria,ânimo e consciência*Antes de tudo que louvemos a cada bebê que habita este planeta de lotação esgotada em glorificação ao menino Jesus na manjedoura*Antes de tudo a força do amor na luz do Espírito Santo que nos leva a transmutar a ira,a raiva, a indignação,a inveja e a vingança em uma nova força de motivação e inspiração,ânimo e ação na criação de uma realidade diferente,melhor, mais civilizada.

Feliz Natal


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Querida Querubim-Colagem

Collage-M.Paumarch-www.llibertatatrebill.blogspot.com

Combinar o trabalho diário com o agito que ferve,largos desejos e limitada capacidade de realizá-los,compromisso e liberdade,fazer e ócio,entusiasmo e tédio,construir e desconstruir,liberdade em segurança.O amor confuso entre entrega e defesa,confiança e dúvida,lucidez e loucura,perguntas e respostas,valor.Penso demais ,amo demais,crio demais em meu over mundo.
Canso.Canso demais.Como se sempre fosse o último dia de Carnaval.É a vida que amo tanto.Este viver que me esgota.Cumpro as obrigações e sei que com alto custo,a medida do meu preço.Sou cara porque sei o valor do ócio,do tempo aéreo da inspiração,da energia gasta para ficar no mundo da lua.Reservo para o meu desfrute as madrugadas depois pago o preço das manhãs esticadas em sono culpado,a pressa para zerar as contas.
O cansaço da ciranda de desejos.Entendo Buda só não consigo alcançá-lo.
Sou racional,base do comportamento que me distingue como exemplar.E louca...de lírico otimismo e espontaneidade ,me movo com a energia de que tudo dá certo ao fim.Vou sem planos,acesa com o desejo de sucesso em busca do efeito pretendido.Sucesso que tem a ver com o
destino sem controle a favor da novidade e encantamento.Sucesso que tem a ver com tesão.Tesão de ver o resultado bem ao gosto de minhas férteis exigências.É este processo que pago com os meus tostões,meu dinheirinho dos alfinetes,meu investimento pessoal na caixinha da Dona Baratinha.É na sinceridade do instante transbordante em vibrações insanas e coerentes
que seduzo e contagio como consequencia da ação palpitante.Que delícia quando percebo e sinto que muitos querem "palpitar" comigo,compartilhar desta orgia do fruir sensível do intelecto,da sensualidade do prazer satisfeito.Neste instante somos,eu e você,sem medidas,só somos.Nada importa,acontece a intimidade do dar-se.Eu com esta veloz e transparente escrita,você com seus olhos ávidos de algo que lhe tangencie a alma.Palavras ventiladas,entre nós passa o vento e sem culpa dançamos nus pelas pautas da tela.
E vou me fazendo assim.Nem sei como pode.Enquanto minha nuca se dobra a outras versões estáticas do viver,flexível a ouvir,fingir que sou loira e não penso,opinar só quando solicitada mesmo que nunca,submetida com a cabeça oscilante no ponteiro do sim, muito obrigada digo ,mesmo na degustação de sapos.A sobrevivência faz-se assim,hipócrita.E lamento na frágil voz de querubim,inaudível ,sumida ante a expressão ruidosa que enlouquece o mundo.
E daí escrevo,palavras que saem à luz,antes soterradas entre o coração e os pulmões,escoradas nas vértebras heróicas e cansadas.Minha coluna convicta,rígida,inflexível aos embates que ferem a minha natureza profunda não se verga aos discursos que pretendem influenciar o tom da minha interpretação da vida.Escrevo o que meus pais diriam para guardar só para mim ,educada a preservar a "moral e os bons costumes",menina de boa família,filha de gente honesta .Resulto
dos que estudam,trabalham ,são do bem e constroem o país.E escrevo.E pinto.E bordo.E decoro casas.E leio a vida com olhos iluminados.
A semente generosa que brota de mim agora é amor lúcido que purifica e arrebata porque somos acima de tudo semelhantes,loucos para amar sem medo,sem reservas,alertas para não perder o desfrute do paraíso neste planeta Terra.
A linguagem de fragmentos é honesta,fraturada pelas dores,contudo leve,sobre humana.Voz que teima em não se esconder.Afinal o mundo este outro mundo que não o meu,talvez nosso,é indiferente às histórias de amor.E,aos moralistas intolerantes,presume-se que eu escrevo ficção,invento ondas,me obscureço em fantasias de sexo e libertinagem.Deixa pensar.Deixa passar.Todo santo dia percebo um brilho novo em mim ,liberta do jogo das aparências,cada vez mais,o figurino é a nudez transformista em virtude do tempo que passa e altera formas,espaços,tudo.
Este mundo que escorre em tintas dos jornais matinais se revela em ruínas ,falido.Alguns,muitos entre todos,se acham importantes em sua funções de tráfico de influências,drogas,mentiras.
A bomba da ganância e presunção em estardalhaço mortal enquanto a festa continua destemida,energética ,apressada em direção ao derradeiro fim.Fim de um sistema que se invalida pelo astronômico crescimento do plástico,do assombro em dinheiro virtual -será que existe o lastro,o ouro alquímico?
Apaga a luz!-quero brincar de escuro.
Quero a vida larga.Sair ilesa e perfumada desta delirante violência que aturde a perplexa existência neste pujante caos de seres dilacerados,infiéis com sua própria natureza.
O intenso cotidiano transborda no show da artilharia periférica.Besouros despencam do céu.No poder ninguém mais rói as unhas de aflição nem cora de vergonha..
Eu não sou de lá mas este lá me atropela dentro da minha casa com o som alto que chega das ruas,com homens encapuzados invadindo redutos de famílias.O que vejo e me atropela a toda hora são os meninos doentes em malabares prostituídos entre o vermelho e o verde dos faróis,a bacia de lata furada,as feridas dos usuários de craque alucinados a cada esquina.Não é só o que vejo na TV,nos jornais,nos filmes.Estou ali,neste lá que com força arromba a minha porta.Ocupa a minha casa com o medo.A luz dura do medo corta e desintegra o olhar terno e deslumbrado ao pé de maravilha que enfeita meu quintal.E vem a chuva enchente e alaga os noticiários e vejo fogo,fumaça saindo das águas esgotadas em imundícies.O vírus no sujo,urubus no lixão,pessoas encardidas com o corpo espumando azedo e urina.
Pedra fundamental desfez-se em pó .E lama.
Movente entre fragmentos capto o universo milionário de Dita Van Teers piscando luzes do corpo maravilhoso de mulher atmosfera,cintilante,viva em seu significado de deusa deslumbrante,tratada a ouro,artifícios plásticos,e estudada sedução montada no glamour de um fantasioso e nostalgico universo hollywoodiano.Estrela visível em frestas de seda,atiça homens e mulheres ainda vivos,acordados na surpresa de um belo nu.
E tudo corre bem...há água jorrando das fontes e rio limpo banhando Londres e Paris.
Tudo ,tudo é exagero e desproporção.
Apago a luz do abajur.
Longe da faixa de Gaza,do verso inverso de Dubai,dos abutres gordos que se banqueteiam com as crianças da Etiópia,da fumaça dispersa das florestas e cerrados do Brasil.
Desligo...



(
Querido leitor,

Se você acompanha este blog na fala da Querida Querubim e entender que é legal fazer o link com o seu eu lhe agradeço.
Cris )





sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Querida Querubim-Confissões íntimas,as partes mais sensíveis...



Ajo sobre o verso nu

do todo uno,
corpo amado
Aspiro a entrega
do tremer da pele
desdobro-me em ser e sou
Tudo pode
neste lugar primeiro
do planeta
Traços de nós
ascendendo ao cosmos
no respirar da festa
girando íntima
por entre os símbolos do quarto
ânfora grega
luz pálida do abajur amarelo
exóticos souvenirs
Santa guerreira
o mudo dinheiro
almofadas macias
recosto de inúmeros planos
lassidão de deserto
à sombra das palmeiras
além dos desejos do corpo
as lembranças hoje
são miragens
do arquivo de voyer
excitantes paisagens
somos assim
o veludo tímido transformista
entregue a carícia
do amanhecer



Livros,charutos,uma certa desordem transpira vida na sala.
Ela o recebe vestida.Bem vestida.
Suas roupas exibem elegância e ousadia.
O carrilhão toca e avisa o tempo,os números em algarismos romanos marcam as horas.
Por vezes a poesia em preto e branco.
Hamlet,3° ato,cena 1
Ser ou não ser
Eis a questão
(To be or not to be
This is the question)
O viver mecânico,a repetição das horas e dos dias.As lentes do óculos de grau.
O olhar míope dele a investiga de pertinho.
Os olhos buscam apertados o que não se vê de pronto.Os olhos para olhar respiram a aura da pele perfumada.
Frente a frente.Silenciosos
Apenas vim para te ver.Ele diz.
Ela assente com a cabeça.
Êle a penetra longamente com o olhar.Envolvido pelos mistérios sem decifrá-los.Tomado pela presença da mulher à sua frente.
Ela de olhos baixos, caminha até a cadeira de espaldar alto.a coluna ereta.
Pode ficar,ela diz.
-Mas não me toque baby.
Fique à vontade.Sirva-me champanhe.Quero bebericar.
Quieto! bem devagar.
Quieto! sua voz é imperativa.
O biombo em branco e preto delimita o espaço exíguo.
A mínima calcinha de seda mole e macia enroscada no tornozelo esquerdo.
Pode olhar.
Só olhar.
Não me toque.
Beije-me sem me tocar.
Tenho a vulva quente e húmida.
Vem cá,passe os dedos devagar por entre as minhas coxas.Bem devagar.
Você é tão doce.Sweet baby.
Ajoelhe-se e pinte com batom vermelho o meu sexo.
Agora beije-o demoradamente.
Colha o sal na sua boca.


A partir de certo ponto não há mais retôrno.O que fica além dos limites é o descarnar-se das coisas e sentimentos.
Quantil ôco preenchido com água fresca borbulhante
Aquilo que se situa no umbigo é sensação de insaciável liberdade.
Gosto de viver.
Vôo cego.
O inevitável caminhar pela atmosfera vazia,quase morte.

domingo, 11 de outubro de 2009

Querida Querubim-O desejo...

GALERIA ART LLIBERTAT
M.PAUMARCH obra gràfica
Bebe assim
do néctar que lhe ofereço
neste vão de lorde
alforge de águas
acordes de encanto
exclusivo recanto
de polpa macia
e seiva espumante
Bebe a mim
no enredo de teu porte
cativa-me com seus braços
me enlace forte
mais além do corpo
me ame pelo espírito
transborde em minha alma
o desejo,a posse
o desfrute da vida
e fique
Cristina Siqueira
_______________________________________
É como se fios invisíveis me prendessem a êle,pés,mãos,dançando no espaço,elástica,entregue ao fascínio que me põe bamba,bailarina.Todinha ali,coração,cintura,a dobra do ventre,eu danço.A vida em suas mãos num fio de delicado movimento.Marionete hipnótica de um feliz parque de diversões.Traços enovelados de sentimentos,Misty,ouço de um lugar qualquer.Deslizo pela memória do sexo,gostoso,bom.Agradável resposta do corpo encorpado e quente.O mergulho imprevisto na carne viva em desejos.Lábios sequiosos de beijos.Nada programado,sem resistência me entrego novamente.Sweet baby.Este senhor que me seduz com seus olhos mansos,a ponta suave dos dedos,a pressão forte das mãos em busca de apoios macios ,vãos aconchegantes.O leito sulcado na nuca onde a língua corre feito um rio.A sensação que perpassa a pele e chega a profundeza líquida do coração,impacto da existência dele em mim.Vejo-me de um outro jeito,êle sendo eu neste vale longínquo da vida.Reduzidos a essência.Seres completos. Cegos,tato da leitura sensível dos corpos,caminhos conhecidos,paisagens amadas traduzidas em luar.Auras deslizantes em misteriosas sensações.Vertigem.Nada que passe pelo pensamento.O abraço é tão estreito que nos dissolve em gotas de um amalgama fértil em energia.Ativamos super poderes ,podemos tudo neste momento inclusive apagar o mundo ,reinventar a vida....Suspiro fundo.A despedida apressada.Sem noção do tempo,do espaço.Completamente enternecida,anestesiada,largada de mim no último degrau da escada.Escuto a batida da porta.Um baque surdo no meu peito.-Como recobrar o controle?-como saber onde me acho? Meu Deus!-o rumo?O coração sufoca a traquéia ,enlouquecido no descompasso de suas rítmicas pulsações.Perdi a clareza.Os pés descalços.As pernas não obedecem,mãos trêmulas,coxas úmidas de amor quente.Louca! a risada explode no furor do desaviso.Incontrolável voz que cantarola sem som algum o bolero apoteótico.Ravel.Este enredo viciante,o drama explícito na secretude pálida do papel.Me descubro rica em amor pra dar.Me descubro desguarnecida,frágil,em pânico pela felicidadeque chegou,sem pedir licença,devastando a ordem melancólica situada na poltrona ocre da sala.Medo,sinto medo de recomeçar.O impacto físico que me põe viva,acordada faz-me perder das questões da existência.É a rota do ir-se embora da pressa,da urgência do dia seguinte,das próximas horas.É zerar os questionamentos,deixar de querer entender,reter,amarrar,aprisionar.Vivo um paradoxo entre a intensidade da carne viva que me conduz ao absoluto nada às sensações palpáveis de gelo na barriga que me vem pela dúvida,incertezas.A eloquência do grito que diz:Nâo pode!Começar tudo de novo...aprender a caminhar em novos velhos caminhos como iniciante.Buscar a mão perdida na distância...eu e o medo da dor, o medo do amor.Será?...acordar o que estava adormecido.Saio do estado de metal em movimento rígido e decorativo e passo ao terno desmanche de ser macia,solúvel em água doce,desmanchando em perfume pelo ar.Os sais na banheira de espuma,mergulho a felicidade.A marca deixada pela sua vontade.Sua voz suave percorre meus ouvidos...eternamente.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Querida Querubim-São Paulo é bagagem.









Marcelo Dalla,artista múltiplo,assina
o blog www.marcelodalla.blogspot.com
É dele esta ilustração charmosíssima .
São Paulo é minha cidade de força e trabalho,onde me expresso mais concretamente.



Avanço com passos intuitivos por um caminho que revela um emaranhado de ideias.Não sei o que tenho a dizer,nem onde tenho de ir mas vou,respirando pelos poros falo calada através do silêncio de Deus que não me diz o que é bom e ruim neste cinza confuso.
O tempo efemero,as contingências da vida,o apelo diário aos céus,o acento trágico da postura no salto alto equilibrando a desestruturada vertebral,bailarina da inquietude veloz com que fui alcançar nem sei o quê,tanto são as tentações quando se quer fartar de viver.
A vida não é fácil mas se oferece a mim sedutora quando abro as janelas do 16º andar sobre a cidade espetada em prédios,ninada em buzinas,freadas,luminosos hipnóticos.
São Paulo uma cidade tensa que avança pela corrente sanguínea.A trilha de carros,riscos de faróis no asfalto negro molhado.A cidade raspa pela pele.A proximidade com as pessoas reais que se locomovem enfrentando desafios de dar conta,dar conta,dar conta.
Existe beleza nos afazeres das jornadas longas,existe ordem neste caos.Abre o sinal.Verde,o ritual da vida.Assim se contrói a força ágil,tresloucada de Sampa,a cidade que me mimetiza.Sobretudo cinza,botas longas,cachecol,super bag,óculos escuros,negros mesmo,autêntico Ralph Lauren.
Amo esta cidade cheia de penduricalhos pelas ruas,camelos de brilho fugaz,pirataria e frutas.Tem yakisoba na esquina.Pessoas dentro dos prédios.Artistas criando com massinha de modelar a história,a escrita,a tinta,a folga,a ação ,a superação.Todos fazem alguma coisa num filme que se passa dentro de um filme imaginário,hermético na cabeça de cada um.A cena dos grafites paulistanos.
Resolver os problemas da mega cidade esta malha forte e intensa que se desdobra em infinitos possíveis,impossíveis carros.
Todos personagens transformistas jogados na temporalidade dos sinais que abrem e fecham.A cidade promete ganhos,clama pregões em sotaques emblemáticos de lugares distantes que se tocam na troca de dinheiro que passam de mão em mão na relação custo/velocidade/energia/capacidade.
O pecado da cobiça nas sedutoras vitrinas de tudo que o desejo quiser buscar.São Paulo junta tudo,todos,neuroses,amores,o que se oferece a seus seguidores enlatados neste mundo,as dores.
Componente do elenco acrobático dentro do show me construo de outra maneira,ganho tendências,linguagem,impulso.
Peço por mim de outro jeito,oficiando o culto aos filmes ,mergulhada nos signos artísticos das galerias,das exposições.A assiduidade com que visito o Museu da Língua Portuguesa.O passeio verde pelo Parque do Ibirapuera.O nariz afundado nos livros das ricas livrarias .
Todo o tempo é muito pouco neste estar livre pelas ruas e metros.O Bar do Genuíno,a familiar Vila Mariana,o cardápio de carne e carboidratos,os doces e cafés das padarias templárias-a Galeria dos Pães,a Doce Encanto da Rua Topázio.
A cada canto a cidade metálica no fim do mapa,dentro do mapa.A cada ponto intenso existe arte.
-E as feiras?-os pastéis.O ritmo martelado da poesia,o encanto formal do tudo que vale tudo.A luta aflitiva e séria,a façanha de ser feliz estourando toda tradução da lógica.
A matéria dispersa,fumaça.avenidas travadas,óxidos esparsos por trás dos quais se esconde o espanto.O encanto provisório,o refazer-se que ronda,o declínio da realidade.
Incorporo a cidade que abana cash,luxo.Mergulho no pote de ouro com olhos gulosos despertos para viver o clássico e o inusitado,o simples e o sofisticado na vibração que emana de todos os estilos em linguagem igual e caótica em dias de chuva.Reinado do limpador de para brisa,sombrinha e guarda chuva.Tudo é superfície alucinante.

Azul da janela aberta em cinza molhado.Respiro do chumbo fresco e frio que entra pelos vãos da vida.Sensações de dia e noite.O kibe e a esfiha do Elias e da Jaqueline ao lado do metro Ana rosa.A fumegante coxinha e o guaraná diet gelado.O paraíso da gula,a intenção de movimento percorrendo com os olhos os espaços corridos e velozes dos bairros que crescem em cada esquina,beco,avenida,viaduto e embaixo dele.Marginais que desembocam na liberdade das terras do interior.Rios cansados de promessas vãs e homens inúteis na hora de recompor o quadro vital e pitoresco.

O frescor da civilização que cresce jovem.O aroma do mundo na Oscar Freire.A Gabriel e os requintes para as casas em espetáculo de modernidade.
O cheiro de gente apressada,enervada pela rua Direita,Viaduto do Chá,Praça João Mendes,Anhangabaú.A insanidade consumista delirante do país inteiro e dos vizinhos latinos que desemboca na rua 25 de Março,na ladeira Porto Geral.A dinâmica da vida pós humana refletida em dinheiro.
As ilusões dos espectadores a passos lentos olhando vitrinas nas galerias e shoppings centers,nos mega super mercados que entusiasmam senhas tecladas com agilidade de pianistas.
-Quem sou eu afinal nesta multidão de cores,na mistura de figuras,nas aparições repentinas a cada esquina de personagens novos,reais e flutuantes ?
O animado ser humano encapsulado em carros de modelos decantados em anúncios de lirismo extremo convincentes de que nos transformam em seres melhores,vitoriosos ,em glória.Torno-me figura e fundo,a voz sem interlocutor,a freada súbita,a sirene da ambulância,a revista colorida da esquina ,o preto e branco distinto,o kajal e o batom,a mala de rodinhas para carregar de tudo a vida.
A cidade hiperativa de várias estações em um mesmo dia,do muito a fazer,do impossível parar.Todas as contradições ,o desejo de emagrecer e morder o alvo errado das carnes suculentas das gastronômicas churrascarias.
Passada enérgica , fibra de aço,dança ligeira de pares que não se tocam.Passam carcaças vazias,homens de mente ocupada,mulheres de natureza fria,vendedores atrevidos.
Povo animado pelo dinheiro nos bancos.Homens ,mulheres e crianças cobertos em sonhos sob as marquises ,em show de malabares nos semáforos com as mãos estendidas necessitados dos alimentos da ilusão.
Em clima de happy hour garotas que em minutos servem-se nuas em refúgios de luxo ou lixo.
A noite e os pubs, centro de fumaça do mundo rápido,pesado,estranho e solitário.As madrugadas agudas e quebradas em via crucis etílica.
O ingovernável se auto mantém na estrutura cosmopolita de sua desvairada viagem.
A grandeza de São Paulo nunca me abandona.Bagagem.




Esquina da rua 25 de março com a Ladeira Porto Geral- Natal de 2008



domingo, 13 de setembro de 2009

Querida Querubim- A Roda Gigante de Luzes







Cheguei até aqui,neste dia de idade nova e tenho objetivos próximos e a longo prazo.Tenho a determinação do desfrute,sou capaz de trabalhar criativamente.A arte é salvadora.Minha existência é importante,estou aberta para os sentimentos.Ainda me interesso em descobrir toda beleza que existe dentro e fora de mim.A dor existe mas recebi o dom de me colocar acima dela.
Me distraio andando a pé até a padaria,o café,a praça,o máximo de percurso que dou conta no momento e nem percebo a dor como companhia.Dançar,amar,brincar no mar ,tudo posso e mais ainda,ficar horas regradas no computador,assistir filmes e conversar.Então posso,então gosto do que posso.E posso.
O círculo virtuoso da transformação sediado no meu corpo -coração me tornam a mais e além dos ossos ,músculos e entranhas que me põem em pé.Gostaria de voar 5 metros acima como os peixes que se lançam na piracema.Sobreviver com leveza e graça construindo um novo imaginário com possibilidades não pensadas.Hoje até o corpo se refaz na maravilha da ciência com suas proteses,titânio,enxertos em técnicas apuradíssimas.
-E qual o sentido da vida?
Penso que é viver no sentido mais absoluto e absurdamente natural,alinhada ao gosto de usufruir,degustar,construir ,irradiar-ultrapassar a vida anunciada,a mortalidade que submete,o medo que acovarda.Ser forte neste acreditar,no estar e ser o agora.
A partir da criação celebrar a força criadora que ao revolver o solo entumescido dos restos podres e adubado pelo que é velho e jaz ao solo, germina em ideias e projetos que instigam a prontidão,o amadurecimento natural de vida nova.
O ser novo do mundo inteiro grávido nas mãos de sentires que partem velozes da visão de dentro,única.Assumindo que a cada dia tudo é novo.Tudo é bebê a exigir cuidados.
Pluma que voa em um fenômeno tão simples e banal e ,mesmo sendo pluma e sem vida é vital,dança circulante,energia circundante.A intenção de expandir a vida,o gosto por compartilhar,viver para acrescentar generosas porções de si mesmo a humanidade.
Em períodos turbulentos o voo criativo é redentor-coração preparado com doçura em momentos de encontro com o silêncio e a solitude-esta dimensão imensa em que a alma se solta para dançar em evoluções de ir e voltar em proporções grandiosas que moldam a realidade e a modificam.Fazer arte é exercício de paciência.Paciência que acontece naturalmente,passo a passo sem querer chegar a algum lugar e contudo chegando no ponto a ponto do fazer com gosto.
Este é o alimento que se combina produzindo textos saborosos,poemas libertos,riscos da alma em terrenos desconhecidos e abençoados.Contemplo a mim mesma agindo com paixão e firmeza,bens que preservo pelo tempo das idades.Voraz como li outro dia no comentário de um leitor-Voraz sim mas saboreando com vagar o gosto de viver intensamente,cumprindo a parte que me toca e, limpa na consciência-um sem pensar estético e arraigadamente ético.Este é o princípio.Sem julgamentos me fiz assim.
Agéis e longas narrativas organizadas na tela do computador meu príncipe do momento.Meu rei sem tormento de poder.A conexão com semelhantes afins.Como é bom e amigo este estar na trama virtual.
No outono sou um filme em nuances cinza, do chumbo ao prata iridicente.O preto e branco noir do inverno.Explosivo em cores ,sensações e cio na primavera.E largado de si no verão ,tempo de ócio pelas praias da Bahia,pelos catres das cabanas,acolhida pela mata fresca,verdejante.Sou também música e pássaros,rumor de rios,queda livre das cachoeiras,coral de cigarras anunciando a noite.
Rigorosa busca da essencia do prazer,ficar contente a toa.Usufruir o peixe da moqueca,o camarão do bobó,todas as cocadas e suas fitas de cor:maracujá,queimada,branquinha.
A bolsa com os artifícios da vida moderna,o protetor solar,o ipod,o iphone,a camera digital.Trago para o simples toda a parafernália tecnológica,todas essa coisinhas de Deus desbravadas pela inteligência humana.E curto sem medida as inúmeras possibilidades que existem.Sou a cena e o fora dela.Sou o quadro,o mar aberto,o cochicho das ondas ,a paisagem do horizonte e também os olhos de fora,a platéia que assiste vibra e enlouquece com a deslumbrante beleza.
Vejo o que não é visto.É sentido.Aguço a sensibilidade sobre o invisível debruçada no mirante do infinito.Transcendo ao tempo, sem pressa,livre de espectativas e ansiedades.Meu bendito vidrinho de floral impatiens.E recebo a benesse de não me frustrar.
Trago os momentos de silêncio para perto e percebo o que há entre as coisas.O tempo é caro,patrimônio cumulativo de riqueza.
Sou e somos algo único.As histórias escritas nas faces.Sou e somos histórias reais criando um story board de verdade a cada dia quando pulamos da cama para trabalhar,amar,para encorajados fazer da nossa vida o que nos é próprio,admissível.
Do mundo percebo a amplidão,o quanto sou minusculíssima.Do outro percebo sua performance original mesmo que encoberta por disfarces e mentiras.Vejo sua humanidade buscando por luz,entendimento como a planta que cresce em direção ao sol...até as plantinhas rasteiras.
E falando de arte falo dos seres que driblam os desafios ,equilibrando em malabares a aventura e a rotina e tem sua força no trabalho,no prazer,na generosidade,no humor e se revelam amorosos ao que nos cerca e cativa.
E a roda da vida vai ,gigante,até o momento em que se transforma em alma.E a crisálida em borboleta.