sábado, 27 de dezembro de 2008

Querida Querubim-Quer ser par em encontros tranquilos e ternos...

São duas horas da manhã.A ceia de Natal foi ontem entre agrados familiares,champanhe,frutas,assados,doces esperados.
A família a absorveu pela alegria do pequeno menino abrindo pacotes e descobrindo brinquedos.
Madrugada de silêncio,todos dormem o depois da festa.Cada um pegou o rumo de seus sonhos.
A vida para ela é demasiadamente particular.Agora se vê a sós com seus detalhes íntimos.
Tudo disperso!o corpo cansado!a alma solitária esvaída na festa,na euforia dos brindes,na confusão feliz dos presentes abertos.
Entre os papéis em bloco o interesse pela escrita alivia-lhe a dor.Ela precisa
conversar-se,trocar ideias com os laços da camisola de seda,acariciar a maciez do cão estendido a seus pés.Saber suas impressões,sua memória secreta.Escreve,lê e relê o que de si vai dizendo e cria a sensação de ver-se em um espelho.Sente-se tranquila quando cultiva seus hábitos quietos.
A ordem da casa seguindo um princípio metafísico.A familiaridade com as coisas faz-lhe bem,o sossego verde das plantas em seus vasos torna-a mansa.Serena enquanto está assim entregue ao depois sem pressa.Recostou-se no sofá descansa a fadiga do espírito.
Tem necessidade de equilíbrio e saúde.Acolchoada pelo vazio das horas mortas esta em paz no seu mundo.
Os anos voam,o tempo não se detém por nada.Pensa nas ausências,sente saudades.
Sabe que em algum lugar deve existir alguém que irá fazer valer sua espera.
_E os pretendentes? os que a acompanham pela vida atraídos pela sua amorosa presença,eles a contentam ,distraem suas crises de melancolia mas não a satisfazem em profundidade.São companheiros amados e queridos,passageiros da vida, íntimos de suas reservas de aconchego.
Os vínculos festivos demais ultimamente a esgotam.Quer viver descobertas,ser surpreendida em afinidades,sentir o interesse presente da conquista,o prazer da companhia,o desfrute do tempo,a proximidade legítima do amor.
No ermo da casa os desejos se lançam ao cosmos buscando almas coincidentes.Quer ser par em encontros tranquilos e ternos.
Um voo audaz, neste momento partir em busca de sementes novas para a colheita do futuro.
Ela busca por todas as coisas boas da vida e acredita em firmar intenções para o gozo de viver o amor com energia e paz.
A parada obrigatória com que a dor se impôs limitando-lhe a ligeireza de movimentos,tornou-a mais viva com seus passos lentos,atenta as pedras do caminho.O corpo exigindo cuidados e audiência.Passou a se ouvir,a exercer em si a antiga medicina e a moderna e transcendente psicologia.
_Onde dói?_como se manter vital e sensível para assinar a própria vida?_que mundo criar que a satisfaça em seus anseios de calma e plenitude?_como se manter independente ,divertida,sem medo de ser feliz?_como não ser a dor que a maltrata tanto?
_E o que ela quer afinal?
Quer ter alguém a seu lado por dias e dias,noites longas,aconchego.Ter companhia em viagens inspiradas com a vida plena de histórias.Precisa da renda delicada da aventura.Quer vida nova,
romance,conversas sem fim,um estar gostoso para a alma.
Amor e beijos ,muitos beijos.Música para tornar seus dias românticos,fluentes em harmonia.
Música para seu corpo tornar-se em dança e começar um novo capítulo.
Quer mais que isso ,quer servir,usar o tempo para o céu e a terra.Estar disponível a tudo que lhe acrescente amor e paz.Liberdade para existir simplesmente e ter a raridade da alma desperta,
evoluída em espírito universal e generoso.
Ela quer ir além sem se deter em coisas miúdas,sem pactos mesquinhos e comezinas bobagens.
Quer ir além benzida diáriamente em preces de boas intenções em afazeres pródigos em dons virtuosos.Acredita que a bondade é redentora e que a organização é o céu.Tem os olhos cheios de doçura e a aspiração sublime de ser boa.Entrega a Deus suas súplicas,pede forças e originalidade
para inventar um novo mundo.Com suas letrinhas quer produzir beleza e verdade e acaba por descobrir em si guardada com um milhão de chaves a pureza da criança em estado de alegre
brincadeira.
O presente escorre movido por um suspiro fundo,que põe ás claras a fala fugaz amadurecida no cofre macio de seu coração que lhe segreda que há algo muito maior a caminho, agora ela pode sonhar e voar que seu rumo já está escrito no chão.Agora ela pode planar sobre a terra e ser da terra.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

domingo, 30 de novembro de 2008

Querida Querubim-Passos da minha dança

Há um ponto na vida em que naturalmente não se perde mais tempo com as aparências ilusórias,com melancolias não essenciais,com o que se foi e se foi.
Toma corpo então em meio a trama perfeita do destino um diamante cintilante resistente como a matéria dos cristais e de beleza única.E no corte veloz do tempo a vida se torna lapidada , transparente, um brilhante.
Ecos da minha história.
Passos da minha dança.
Pendi para uma vida livre,envolta por uma nuvem de mistério e fascínio,própria dos que se movimentam navegando noites e dias por ladeiras vertiginosas,céus escuros de tempestade,lugares provisórios,partidas e longos retornos.A todo dia a vida inteira recomeçando sem parar.Sempre nova,deslumbrante,perigosa. Uma aventura.
Dias sem espera,vazios como se fossem novos.Tudo por viver.Sempre eu mesma em outros lugares,países,companhia,versos.
As infinitas dimensões que se desdobram em duração ilógica.A vida palpita dentro e fora de mim,na frente e atrás do espelho.Portais de luz e sombras.
E sou assim às vezes tomada de encantos,cheia de graça,vital, por outras vezes, reclusa em meus fins,depressiva e sem alento.Mergulho na introspecção onde aqueço com palavras o meu coração frio.
Em altos e baixos vibro esta grande e profunda paixão que me acorda a voltar a vida quando o amor acaba e me instiga a me apaixonar de novo.
É isso,penso assim,o amor nos tempos de hoje acaba dá-se ao fim mas a paixão de viver esta não se perde nunca e me lembro da cena final do filme Don Juan de Marco quando o insuperável Marlon Brando ,um senhor,toma nos braços Faye Dunaway,uma senhora de elegância flutuante e, apaixonados,se entregam com leveza a dança.
Passam os amores que me deixaram com a compreensão do mundo,o querer bem,a lealdade,tudo que é próprio das histórias de amor verdadeiras.
E passam ...e passam...e passam...
E todos os dias ao ultrapassar a soleira da porta que dá para a rua encontro-me em um mundo diferente de infinitas e surpreendentes novidades.
E vou...
Para viver dependo só de um caminho .A história não tem um fim e o futuro cada vez mais livre,amoroso,apaixonante.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Querida Querubim-A vida cheia de lábia

Os beijos roubados do Cinema Paradiso
A antiga biquinha de São Vicente
A gruta de Santo Antonio
As rosas-rosa de Santa Terezinha
A vila de casas iguais e geminadas
Azul da lata de bolacha Maria
Amarelo caixa de maizena
Sapatinhos vermelhos de furinhos e fivelinha prata
A loja mágica de papéis
Os cílios das bonecas que andam
A vida muda as pessoas
ser sensível ao tempo e as estações
o lado sombrio das coisas
no inverno a perda do amor me esfria
a vida cheia de lábia é convite de verão
segredos femininos trocados a boca miúda
o cochicho no quarto de dormir
na minha casa antiga tinha um quarto de vestir
Colorir a forma de pensar
me deixo guiar pelo vento
há algo extraordinário a espera
os dias alegres quando as pessoas tem algo em comum
e conversam
Sempre tenho algo a dizer
histórias reais de mundos distantes
conto e escrevo
com liberdade a vida é imprevisível
a livre circulação dos desejos
maços de dinheiro
para os mendigos notas de Hum Real
a vida excitante dos poetas
segredos abertos em metáforas
Atração mútua
Sempre tenho algo a fazer
o tédio não me pega
tudo o que é preciso,
nunca mais ,nunca menos
calmante cromático
para os olhos cansados
a arte do equilíbrio
troncos estáticos
galhos que balançam
cores fortes
vermelho provocador
o solo do hibisco
A natureza se vinga

domingo, 16 de novembro de 2008

Querida Querubim-Olhos quase cerrados de gozo.Ela é linda!

Ela vive uma sensualidade iluminada,o sexo pulsa em vitalidade contente.Ri quando o prazer a toma completamente.Riso dos grandes e pequenos lábios,da boca linda em seus dentes brancos sorridentes.Sexo para ela são instantes de eternidade,revelação da divindade que a conduz a Deus que a criou mulher.Ela brilha !
Só pode ter uma ordem a governar o mundo,a da delicadeza.Neste instante supremo ela é assim
a mais querida,a fantástica doadora de vida,sensível ao extremo da pele arrepiada em sua penugem clara.Ela é doce e se abre em sorrisos doadores.
Neste momento nada é avesso a naturalidade do sentir do corpo, da pele se abrindo em cor da intimidade ,flor desvelada aos poucos,no mistério lento do acordar lascivo,uma ordem da entrega sutil da alma.Um fio a correr prateado da corredeira das entranhas vivas.
Semeia nuvens,é sol e lua,colhe estrelas, é o silêncio das noites,o vai e vem dolente da música que a invade em sensações.
A soma destes instantes que duram menos que ela,a brevidade do êxtase que a mantém acesa para todos os dias seguintes nas noites ficantes onde em fuga de si encontra no outro a posse do desejo que vaga.O amor sozinho trama o namoramento possível daquele minusculíssimo momento em que quer,ama e morre submissa ao poder que dela transcende e a torna una,amante,amada.
Olhos quase cerrados de gozo.Ela é linda! Seu chão ,suas águas,seu perfume,seu sabor,os lábios a queimar em beijos.
Os pés olhando para o teto daquele quarto onde as estrelas que brilham são artificiais e douradas.
Esse amor tão de pertinho que se expressa com carinho, é junto,aquece o que se perderia no estio,brota ganhando o ar em suspiros.
Noite pequena que vela em penumbra a terna intimidade,o despudor de inocentes corpos nus adormecidos.Os amantes coados na claridade da lua que entra mansamente pela janela aberta.
Em suas vidas é aurora.
A manhã se abre na água que corre na pia do banheiro,clorofila para a boca fresca.
O ritmo do dia se anuncia mole,o olhar entorpecido se busca no espelho frio.
Então ela se pergunta:-Será que sou gostosa?
Pergunta teimosa que a penitencia desde que o primeiro namorado se deliciava ao ver as mulheres nuas da revista playboy .O sangue fresco pulsa,o coração pede resposta.
-Gostosa...gostosa...é quem faz amor com gosto,se explica.
Ela não sabe que sua risada é gostosa.Não sabe dos encantos de sua fala com seus acentos sussurrantes e espertos.Sua folia que amansa e faz perdurar a força desperta no ritmo
do amante unido a si..Ela não sabe da vibração que palpita em sua carne.
Feliz volta a vida que a circunda.Fêmea traz em si algo que arde e acende o dia com sua alegria.
E ri só.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Querida Querubim- Amar é um estado solto da alma.

A prosa pronta para virar poesia.Palavras guardadas em arca,sentimentos incensados
Os atos em procissão,tudo se avoluma no passar dos dias.
O tempo da espera de um amor maior que a vida.
-Até onde o amor?
-Até onde o desejo?
-O que é querer para sempre?
-E o que toca o corpo e se desmancha na cama,na papa dos lençóis,na maquiagem escorrida,nos beijos de lábios selvagens?
Impulso que trouxe escolhas,algumas insensatas,sempre apaixonadas,amores sucessivos.
-E quando ele volta?
-Ele que deu tanta importância ao medo.
-Não importa.
Amar é complicado
-O que fazer com tanto amor guardado?
Amado sossego,lugar de aquietar a alma e refletir.
Entoar versos que para mim significam.
Tempo de sobra para olhar a vida com olhos de ver lá dentro.
Completamente convertida pela natureza,usufruindo do passatempo de largar palavras que me fascinam.Adoro dizer bonito,dizer por dizer,dizer à toa.Dizer de forma provisória,depois arrumo o pensamento.
Diluída nas marés cíclicas falo cantando a inteireza do meu ser,a entrega deste desmanchar-me.Puxando o fio passo em revista o passado em tons chamativos celebrando com vinho e champanhe momentos envolventes de um acervo romântico que se desprende da memória.
Nada afetou drasticamente a minha alma.A paixão que cultivo é minha saúde e sobrevive a ação do tempo.Enxergo em mim o futuro da vida em luzinhas coloridas.
Ser intensa,presente em tudo que faço é o estilo que me acompanha vida afora.Vida afora.
Não há tesouro maior que o amor.
E o que me leva é a gratidão com que devolvo o ser amado ao próprio espaço,liberto para viver suas escolhas,confiante de suas verdades,seus códigos,seus princípios.Pronto para seguir viagem
para ser o que quer escrever para si.
Amar é um estado solto da alma.É riscar a vida no chão de areia com entusiasmo.
Não se tem um amor.Se é o amor.
O amor pode estar em qualquer canto que não seja um canto qualquer,é um estado forte do espírito.Um voo alto que alcança imagens queridas saídas do horizonte azul.Azul é pano de fundo para cenas que não se pode esquecer,atitudes que fizeram do viver um estar gostoso.
O compromisso amoroso é legitimo de ser enquanto se é.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Querida Querubim-Bege

E quando escrevo nesta torrente intimista fico a salvo da preguiça deslizo azuis esferográficos em paralelas traçadas no branco papel que me recebe cúmplice.
Vivo em todos os lugares e sou assim porque transcendo.Falo a verdade porque ela é mais rápida que a mentira.E não minto,fantasio,me enredo em encantamentos na magia do não sofrer.
Tinjo de dourado a pílula,todas aquelas nos vidrinhos em cima da geladeira.Vitaminas e ômegas.Tudo em dourado ... a vida, a cédula de papel,o cartão visa, as unhas,os cabelos,o baby doll sem uso aguardando estréia.
O sangue dá voltas no oroboro do corpo por veias e artérias.O coração pulsa explosivamente,lateja e denuncia desejos.Dá ordens para detonar o peito.
Nas noites escrevo para fazer-me companhia.Queria dar-me ,receber-me.Que falta sinto de mãos abusadas a tocar-me o corpo.Lábios oferecendo agrado num sobe e desce encantado.Murmúrios quase palavras bem próximo do que me tange a alma.
E me acendo a noite,lembranças bailam a minha volta como se eu fosse fogo.
Ao abandono como a roupa na cadeira depois da festa escrevo o caminho do avesso e levo ao mundo o meu reinado,antigo na soma do tempo.Frágil orvalho que se desfaz com os primeiros raios de sol.Nem sei se existo neste registro de inexistência.
Todos os meus mais queridos nesta hora dormem reféns dos dias iguais.Nada que faço é previsto,preâmbulos,penumbra,a luz que gosto onde gero palavras e me dissipo.As rosas florescem à noite,acordam frescas,prontas em beleza, perfumadas batizam o dia com cores-rosa ,branca,encarnada.
Faz tempo que o brinde acabou.
-Quando?
-Como não percebi que o tempo encolheu e o mistério se desencantou.
-Como não pressenti o coro de ladainha forte da vida doméstica que desviou sua atenção.
-Como?
-Como não percebi que a semente selvagem se perdeu na mesa entre as bijouterias e secou entre as moedas do mundo.
Manso amor, tenho sorte no consolo da pena que esparrama nossas vidas salpicando letras onde existiam carícias e suspiros respondem pela doce loucura dos beijos.
Escrevo o tom da existência pálida.Amplo bege,caminho das areias mornas que devo seguir no imaginável,sem promessas de amante.Ir para esquecer sua delicadeza,seus gestos de bondade.É tudo estranho.Bege.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Querida Querubim-A espera

Ela fuma uma cigarrilha de sálvia.
O aroma da erva queimada espalha-se pela sala e mescla-se ao incenso de sândalo que queima lentamente.Odores de acento marcante.
Olhos baixos em versos livres de espera sem espectativa alguma.Espera vazia em que o tempo longo escorre pelo espelho.Não intenta decifrar o destino, cheia de preguiça, o sangue quente lhe aconchega as entranhas.E corre por veias e artérias um desejo manso por doses de carícias.Sua natureza inteira de nudez velada pela seda macia de cor tênue e fugidia.Suas formas de mulher, seus vales, colinas, florestas, a delicadeza do umbigo redondo, nem fundo nem raso.A curva das axilas lisas com cheiro de pele, deliciosamente naturais.
Um fragmento de um poema longo quer chegar na pausa do cérebro.E passa fugaz.
Ungida por um fluído misterioso de amor num rito de cortesia serve-se de vinho fresco de cor encarnada e sabor forte.Precisa de exaltação física e espiritual neste abandono a letargia.
Um estado de felicidade indefinível,o desejo refinado pela espera.
Idolatra o amor que a redime dos homens e a aproxima dos anjos.Voa como um anjo belo seduzida pela atração do encontro que faz palpitar seu peito.O amor é a prova que a enobrece.
É uma mulher não uma santa.Sente coisas entre o prazer e a dor.Ensimesmada estende sua imaginação pelas paredes do cômodo cor de rosa decorado com quadros sensuais de casais em mandalas amorosas..O que lhe toca são corpos que ondeiam febris nas duplas chamas de suas fantasias.Ela longa,estendida entre as almofadas frias de cetim salmon.
Seus dias.
O barulhinho da água percorrendo os canos da casa.O tic tac do relógio.
O bocejo.O espreguiçar de gato.A penugem das coxas.O ventre em concha de receber. Os seios em bicos de doar.
A espera.
Este sentimento estranho com seu cortejo de emoções,sensações,obssessões.As curvas,os portais do corpo,os dedos a passar docemente pela nuca.Os fios longos dos cabelos espalhados em desordem arrumada.
As peras em calda na taça de cristal, o aroma de licor e cravo da Índia.
Rosas sem espinho no jarro, pétalas caídas sobre a pequena mesa de canto.O labirinto da solidão desafia a busca pelo sonho.A essência do amor em estado artesanal.
Ela ama.
Fez-se assim, sem fadiga, no conforto das horas sem pressa, deu-se o direito ao prazer.As meias finas de mulher repousam na banqueta de veludo bordô.
O copo d água pela metade, o retrato com o vestido de festa.As paredes cúmplices.Um conjunto de forças sutis e impregnantes que a servem enquanto espera.
E espera.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Se houvesse amor a vida seria carícia

Pela janela espero um anjo
Se tudo fosse mágico não haveria fim
O perfume bastaria como um voto de paz
Sem pensar a felicidade estaria guardada
sempre à espera em um lugar belíssimo
que por tantas vezes eu vi
Se houvesse amor a vida seria carícia
A última palavra,ojardim de rosas
O meigo cão a guarda que basta
Os robôs guerreiros na promessa de paz
trazem a guerra
-Onde estar a salvo?
E,no entanto,o que sucede na sala do castelo
onde se decide o destino do rei?
Deflagrar o espetáculo
Todos atentos
É real a vida
Procuro as armas no fundo do coração
onde as guardei um dia
Além do rumor do mundo feio e confuso
os rios são frescos,pássaros cantam
Acender de velas para entender a importância da questão
Que não quero crer
nesta espécie truculenta e animal
que se faz de fúria
As conversas com os gerânios
Os suspiros das bromélias
Rosas de todas as cores
Borboletas
um vento bom
Calor e conforto
Ternura para o tempo triste
O mundo não é quadrado
Volto ao ponto de partida
Caminhei
Caminhei
Ralentar
Falar com a alma
é o princípio de tudo

domingo, 28 de setembro de 2008

Querida Querubim


(continuação de Querida Querubim-primeira postagem deste blog)
Sábado a noite.
Tempo de acrílico.Espelho de cristal bisotê.Tudo acontece ao mesmo tempo.Dança até o sol nascer.Se atira na vida.Perde o fôlego...de tanto beijo,,,,,,,tanto beijo.Esbanja charme,glamour,atitude.Tem ressalvas e adendos.Arrepios decote a dentro.Champanhe Veuve Clicquot resume a vida sem piedade para cortar o excedente. Ser faz tudo e ser perfeita.Brinda à lua.Brilha estrela.Quando a festa acaba quer sossego,voltar a calma sem burburinho.Ócio que alimenta a inspiração que chega na querida solitude acalentada.Anda a pé.Adora as ruas. A sombra das árvores na madrugada.No meio fio da calçada equilibra-se no barulho dos tacos.Lê a cidade,sábia coruja.
Domingo
Ficará dormindo até o além da tarde porque é domingo.O anjo do jardim corroído pela chuva,rodeado pelo silêncio do meio dia .Ela amanhece com sorriso pequeno,boceja o sossego.Brinca no espelho.Comovida com a vida que não entende e vive.O sorriso tranquilo na boca do domingo.Papéis de ontem embolados no lixo.Ela queima mentiras.
Pega o vestido largado na cadeira,perto da cama.Usa um colírio para os olhos mentirosos.Afaga o cão.Morde a maçã.Larga-se nua na cama.Solta as pernas brancas e macias.Toca a beleza parada do corpo,acaricia os cabelos,molemente espreguiça-se.Se perde em devaneios ,a mente vaga sonâmbula pelos labirintos do cérebro.Olha-se com franqueza...se acha bela,lisa como a seda.
Conheceu muitos homens.Disse sim .Esperava o paraíso.Desliza a mão pela nuca,coça as costas num afago.Lá fora chove.Inventa a vida a cada momento,faz o que seu corpo pede.À sua maneira é livre.
É domingo,dia de missa.Pensa nas mulheres que vão à igreja conversar com Deus.Espera flores.Lê jornais.Uma moça como ela...como ela é afinal?Gata preguiçosa sem notícias do dia lá fora.Examina as unhas.Se distrai olhando para os seios da mulher do quadro.Seu olhar canta fantasias,sua boca audaciosa,seus dedos impertinentes.Ela quer...Gosta de plantas.Os anjos passam na calma das horas.O vestido a chama,um dia talvez escreva um romance de amor.
Aprendeu a viver em todo lugar.Trabalha e dorme.Acha a vida espetacular .Viaja.Devagar come os bagos das uvas verdes e frias.A janela alta dá para a rua.Deserta.Os pés miúdos pisam no chão são leves.A vida é doce e generosa.Pronta para voar.Moinhos de vento.Tão diferente das outras mulheres.Esquece o tempo.Sempre há algo novo.
O vestido.A tarde morna e húmida de domingo.O céu está perto.Ela gosta de ausências.Ama o amor longe.Vive entre a clareza e a harmonia.Entre o beijo e o aceno.Conta histórias de neblinas e fadas quando resolve falar.A cidade um navio fantasma.Quis inventar o amor.Recusa a hipocrisia,a repetição monótona das horas.Adia para sempre a história de amor que como a concebe não consegue viver.Há um clima de espera.Sempre há.
E escreve.Constata as diferenças com meiguice.É compassiva e tolerante.
Ah!!!!! os homens.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Brasil meu chão

Estou quente no íntimo,vagando entre frear a pressa e deixar-me ir me refrescar.Tornar-me àgua de esperança.
À margem, a vida palpita lá fora na Rua da Glória mas aqui está bom.Neste meu território vou me refazendo,vou me desfazendo,quente.Em banho- maria vou me cozinhando em sonhos ,projetos,inventos de ida e volta.
Aqui onde ninguém tem acesso me guardo inteira.Minhas vozes.As paisagens lunares que flutuam no meu escuro mesmo sendo este dia solar.Quanta luz banha este tempo enquanto tento tornar-me leve,usar as pausas,ser mais breve em meus intentos,mais pés e chãos mudando de mundo onde as aparências contarão a menos e as vivências sobreviverão engravidando livros
nascidouros de poemas,flores e novidades que arrebatam a vida e impelem a deixar-me ir na correnteza de um rio escolhido no mapa por ser calmo,limpo,transparente.
Minha alma a me conduzir um passo à frente e é incrível ai é que eu encontro a fragante infância
pai,mãe,meus avós.As garrafas de vinho vazias com as velas derretidas.O cheiro de manteiga a granel na água.O bolo assando no forno.Os cheiros todos.A cebola dourada sobre os bifes.O azeite estrangeiro regando a sopa de feijão no prato fundo.O alho frito temperando a escarola.Todos os cheiros da cozinha.O café coado na hora que meu pai servia.O louro,o toicinho frito,o pão de torresmo.O molho de macarrão feito com tomates maduros que minha avó cozinhava em fogo brando em horas de conversa com as panelas.O bolinho frito polvilhado com canela e açucar agrado de minha mãe nos dias de chuva.
Pescadas,saladas,verduras,
bistecas,batatas fritas
arroz e feijão
ovo frito
abobrinha,xuxu,moranga
costelinha de porco pururuca
couve cortada fininha
e todas as farinhas de milho,de mandioca
as pimentas de arder os olhos.
_E o cheiro das bananas macias com coco e caramelo?
_as cozidas de São Tomé?
_ e as banans da terra, fritas?
Sou tão Brasil nesta semente que a terra guarda quente dentro de mim.
É o meu rosto que envelhece abençoado.Em cada ruga o aceno a uma história que se abre em
pessoas e paisagens.Lugares que me guardaram e outros onde me ocultei buscando a sombra para realizar reparos.
Estou assim mais vagarosa pelo menos hoje,nesta tarde morna vivo a minha idade verdadeira
entendendo minha vida,os laços,a minha gente e suas vozes por cima das casas,dos prédios,dos apartamentos.Das casas sem teto,das casas de chão.Mas não é ai que meu povo sofre,nosso inverno é húmido e enregela até quase matar,não temos calefação,mas não mata
E o meu povo segue a luz de um Deus brasileiro que é só coração.
E o meu povo segue e o que lhe falta mesmo é a dignidade de ter o dinheiro justo o preço de sua alma esticadas pelos dias.
Bandeira em cores da nossa terra verde,amarela,branca e anil onde se adivinham cantigas e ritmos que só nós sabemos sapientes que somos de nosso trabalho,de nosso fervor a este altar de Deus.
E todos nós os brasileiros queremos nos salvar desta corrupção tão descarada onde a cara de hoje já será a de outro amanhã.
Meu País.Meu País é rico.
Sou brasileira desta terra afortunada.
O meu Brasil já caminhei por ele longos trechos.Já estiquei lugares em moradia.Já fui São Paulo,Minas Gerais,Goias,Bahia.
O meu povo é feliz contudo é triste porque lhe roubam nas noites a alegria dos dias.
É estou aqui parada,só com vontade de sossego,pensando no meu bloco de frases e palavras tão lusas como um dia foram tão brasileiras como são agora para além do quarto onde estou em glória,quanto percalço,quanta desordem,quanto regresso.
Brasil.
Brasil é gesto.É o que me colhe e me enche de tamanho de raízes em terras e traço de destino.São
minhas serras,meus mares doces e quentes
meus rios e poentes
os divinos horizontes
brotados em sol do meu ventre
Brasil
minha gravidez de raça
meu parto de memórias
minha estância de história
meu estado de graça
E aqui estou além do oceano tentando entender de povos e culturas,estendendo o olhar,teimando a atenção por tudo que acontece no caminho.
Cansada fico por estar semeando em outras terras a semente viva que trago no meu peito e que na minha terra sumiria terra abaixo pois vivemos num tempo em que o saber espera e a ordem do dia é não mexer palavras e deixá-las a morrer frias.
O tempo me conduz pelas idades.A vida me tornou em versos,amores e cidades.Sou assim,cheia de vida desde criança quando brincava de índio no jardimda praça.
Sempre quis saber de tudo e ousei malabarismos,manuscritos,travessias e encantos.Falante,escrevente,nômade,itinerante.Proficua na boca cheia de letras,fantasias na cabeça,magia nas palavras.Confiro as terras palmilhando estranhez,engraçadez.A areia dessas praias,as águas frias que no meu corpo tocam.A verdade,a mão que guia,as rotas que me levam.
Aprendi a andar no escuro,a ser breve nos enganos e estar atenta nas fronteiras.
E hoje vôo estando leve neste quarto batendo asas em festa de escrever.Aqui o meu atual acaso,o mirante de onde avisto a todos e a tudo o rio Tejo,o Douro,o Sena,o Mondego, o Amazonas, o São Francisco,o Rio da Prata,e os miúdos rios Trancoso e Tatuí,águas minhas tão profundas
Minha presença hoje distante da minha terra na necessidade de exílio voluntário,memórias desbotadas,lembranças vivas e algo que pesa no viver da idade
E o que avança é o futuro,o desejo de viver,a família,o que virá,a esperança,meus amigos e uma imensa saudade
Lisboa,rua da Glória,10

sábado, 6 de setembro de 2008

Estrangeira

Vivo sempre a situação de estrangeira.
Inquieta em ficar.Na hora de fechar a casa dói ter que partir.Depois passa.
Jogo sobre a cama as roupas e com cuidado as dobro uma a uma,criando sistema de espaço.Nas frestas coloco os sapatos,nos bolsões as calcinhas,soutians,nas laterais as meias finas a caixa de perfume.
Invento roteiros claros de afeto e aventuras que bebo para me sentir doida de vida absinto de literatura abstrata.
À roda dos sonhos passa-me a viagem e caminho entre a cena sendo eu o vale indiferente,o limo da pedra que rola,o gozo de viver o presente,o sabor de ser a água fresca,o perfume de almiscar e alfazema.
A vida que invento com surpresas,acasos ,sensações me guarnece de desejos.E amo sentir tudo,alimentar as profundezas da alma na corredeira do destino.Sendo o vento a espalhar no céu
a força dos meus cabelos.
Não são os lugares que passam,sou eu na destreza silenciosa da fala,na viagem escrita.Na brancura da espuma,no murmúrio do regato,no longo trecho de estrada.
As lágrimas secam nos olhos vivos de novidades.Sempre tem quem me espera do outro lado da ponte.Há comida nova no fogão,música e lâmpada acesa.Banho de cheiro ,festa,regalos.
Alem disto o mundo,o secreto diário lacrado.Os segredos.A bagagem que me segue passo a passo.
O sono atrás das portas,lugares de pouso,casas de amigos,amor no peito partido.Tangem os sinos de todas as cidades,os campos férteis,morangos colhidos na relva.O espírito à frente do corpo.
Chego antes porque quero ir,sempre assim,sou maior que o tempo no chegar das horas.
O desejo é combustível leve como a roupa que me despe na correria dos momentos desaflitos sem tormento.
Todos os pores do sol,todo cintilar da lua.O todo tudo sem restrição alguma.Manhã,estrela,orvalho,alvorada.
Sou a estrangeira que passa na imagem pertencida aos caminhos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A casa de Fernando Pessoa

Lisboa
8 de julho de 2005
Casa Fernando Pessoa
Rua Coelho da Rocha 16_18
Hoje estando aqui pela segunda vez observo o contraste da claridade da casa,seu branco neve e a solenidade em negro deste poeta magnífico e misteriosíssimo Fernando Pessoa. Na recepção prepara-se uma exposição em esculturas de papier maché modelando o poeta nas mais diferentes cenas,compondo inusitados movimentos.Algo lúdico...a brincadeira Pessoa.Humor,quase um circo de papel.Algumas sugerem detalhes do cotidiano da vida portuguesa, em uma delas o artista compôs o poeta escrevendo em um caderno de reclamação.Este caderno existe nas casas de comércio para o consumidor colocar as suas queixas.
Ao lado a biblioteca em seu silêncio santo.Lugar de espera sagrada,contemplação do universo
Pessoano em miríades estelares ,organismo vibrante,a obra disposta pelas prateleiras.Os livros,
organizados.Sou tocada pelo lugar.
Parece-me que se pousar aqui e estiver calma poderei passar como que por encanto pelas influências que me trazem arrepios.Toquei a cômoda que servia a Fernando.A intimidade com a madeira encerada,os olhos fechados,a vibração me toma num redemoinho de cheiros e texturas,algo que pressinto cobiça o meu peito,meu cofre escuro por onde transito à superfície .Deve haver mais nesta caixa febril de contorno macio e arredondado,deve haver um botão,uma nascente,uma artéria e seus afluentes,algo que tocado se transforme em gente .
Não fosse o medo que me gela o estômago mesmo sendo clara a tarde,me entregaria a este idílio temeroso de amar a um poeta além da carne.Mas é tão viva a sua presença aqui que o sinto passar rente ao meu lado.São passadas enérgicas e resolutas,transitando fluídos pela casa
A passar de leve um certo ar a me tanger as costas,um alívio contente de carinho e escuto um _Seja benvinda querida brasileira ,sou todo seu,navegante dos tecidos que se tramam além do ser, além do pressentido.
Vens de tão longe querida forasteira.Com bagagens tupis e selos de países nas mensagens de algibeira .
Tu não sabes que és minha personagem e hei de te influir a vida inteira.
E penso que se derrame inspirações sobre os poetas que não os confundam,nem os tornem loucos e sim que os esclareçam e os libertem em vias abertas em seus ouvidos moucos.
És peregrina,pagã,erigida antes dos deuses se tornarem império.
És ambigua,perplexa se torna
espocando flashes de mil mulheres
em potes de mel como dissertastes em versos
És safa no sentido sagrado da palavra
e habitastes na Ilha do Paraíso incalculável
Buscas a filosofia
quando na verdade
ela é que tendes a ti
Refém do que não supões
que haja em teu íntimo
em teu imo
além de tudo que entendes de psicologismo
Não se incomode mais com as pratas
mesmo sendo mulher e ambiciosa
que nada lhe será impossível
nesta versão abandonada da vida
Entrega-te como amante
no quarto de penumbra
e verás tudo tão claro
que se cansará de ver
E tudo passará
pelos teus olhos mansos
e bastará
será a mais do que desejas agora
Haverá o momento em que
o que olhas te embebedará
a alma
todo o seu refúgio sensível
e não será mais tu
o que entendes que era
e não existirás
até que se formem
novos personagens em seu ôco imo
Nascerás assim mais vezes
em corpos máscaras
que ao crescer se auto inventam
como os poetas inventam personagens
Com direito a tudo
que os justifiquem ao mundo
Até que um dia
o sopro final, o último
lhes carregue a entoar
no espaço uma nova sinfonia
onde se pensava
que nada houvesse
ou o gelo e um retalhar de culpas

quinta-feira, 31 de julho de 2008

sexta-feira, 25 de julho de 2008

terça-feira, 8 de julho de 2008

Serenidade onde nasce a liberdade

Nuvens ralas coando o sol da manhã.Diáfanas nuvens de gaze clareando o azul em branco. Sem formas delineadas, esparsas pinceladas de um artista solto pelo céu brincando com mágico pincel de nada fazer. Tudo amplo, aberto, imaculadamente limpo e original.

A praia deserta, a maré baixa. Caminho sem esforço pela areia lavada e dura da orla rendada de água fininha.Uso colares de sementes feito pelos índios Pataxós.Levo livros.
Livros pesam, mas fazer o quê, são meu destino e meu ofício. Leio o que me aparece, normalmente de quatro a cinco livros que vou espalhando pela casa, pelas bolsas, pela cabeça. Trouxe comigo um Tom Wolfe, "Um homem por inteiro".Um paralelepípedo de 662 páginas. Estou agarrada ao livro que lançado em 1999 é semelhante a sociedade brasileira atual que com atraso se espelha nas americanices do norte. Os exageros, as esquisitices e as excentricidades de um bilionário enfrentando a falência enquanto a família,a segunda mulher e agregados consomem suas ultimas forças em gastos perpétuos e estapafurdios da vida americana,.As favelas da cidade,os astros do esporte, a fazenda de 12mil hectares só para caçar codornas. O cenário é a cidade de Atlanta na Georgia.

Vou ao mar, ao horizonte, ao castelo das crianças, a Shangri-lá , ao rumo sem rumo que me conduz a esta prosa que deito prazeirosamente na folha do caderno preto.

De onde me vem este gosto encantado por ficar só? A natureza que me contem é forte ,fresca, a banhar-me em libertação.

Liberdade é o patrimônio que preservo é onde me reconheço forte, independente, plena no sentir em totalidade- me levo, me escrevo e me acompanho folgadamente no ritmo que me põe a dançar, ser siri, lesma brilhante,pirilampo do dia ou esta senhora desnuda que entende de se isolar para se pertencer, se alegrar com ondas que quebram, com mergulhos e águas de curar.

É tão bom ser agora o meu destino. Ser coragem suada de tanto caminhar. Ter o ânimo nutrido pelo livro de orações que carrego na bolsa- aqui Jesus me faz companhia, meu Jesus doador de graças e amor, um profundo amor que atravessa em compaixão os tempos. Banhada em luz na decomposição do espectro solar de cor rubi e dourado sou ouro da existência abrasada em amor. A esta hora o sol já vai pelo meio do céu e as pessoas transitam molemente pela praia.O cão labrador busca o pedaço de madeira, outro, um vira lata se lança na água atrás da casca de coco. Mais abaixo crianças fazem guerra de areia e o mar engole seus castelos.

A vida passa.

O minuto se desmancha enquanto o escrevo. A paisagem é dinâmica e se transforma num quadro vivo.

O sol faz-se ardido.

Espalho livros pela areia.

O trote do cavalo manso e o homem magro com chapéu de cangaço.

O mar recua .Ondas mansas.

Vai e volta o andante cavalo branco sujo.

As frases soltas se organizam em pensamento sem pensar.

Vida mansa é simplesmente estar.

Faço parte deste mundo em que o "estar lá fora" é ser feliz "aqui dentro", vibrando por fazer parte deste cenário dos deuses. Aqui, este aqui que eu falo agora é um lugar que só a mim pertence, onde não ouço o celular tocar, um "deixa estar". O corpo se entrega, os nervos sem tensão, o músculos dormitam na camada húmida da areia quente. A vida está ligada e passando, apenas testemunho. Ouvinte do marulhar, gerando um campo magnético imaculado, alheio a estreititude do chegar humano. De olhos cerrados, tudo existe apenas em uma névoa e não distingo o que é miragem e o que me vem de memória em paisagem. Coração quieto.

Um marulhar ... coração quieto.

Nunca nada é o fim do mundo.

O mundo é eterno, nós é que somos passageiros.

A esperança afetuosa no destino do meu neto Théo, a quem devo estes encantos que rendo ao planeta terra.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Querida Querubim

O vinho do meu canto, encanto ,fui me desprendendo do mundo. Cada vez mais eu, tão solta, com os porões abertos latejando vida. Suave, compadecida, de todos os instantes nos quais não me pertenço._ Quanto arrimo necessito nesta vida acelerada regada ao supra, ao sumo da beleza em músicas que me desafiam a entrega sincera da alma? _ Quantos beijos necessitaria para aplacar meus desejos de ternura? _ Quantos passos a bailar comigo nesta esfera intocada da vida, zona de trânsito ardente, quando ouço Nina Simone, Ella Fitzgerald em Chick to Chick ? _Quanto de mim é coreto e banda, alegria? Quanto de mim é Ray Conif, Ray Charles e homens que são sombras vivas a enlaçar-me pela cintura, cheirar os meus cabelos e sussurrar ao íntimo que não ofereço.
Vinho chileno tinto merlot, o melhor restaurante, arroz com coco, o cenário de palmeiras, bananeiras parceiras da lua. Danço, entregue ao cio das palavras que me fazem viva, loquaz. Quase pluma. A sombra dos panos brancos bamboleio na água azul, tudo tão deserto ...milhões de salões em festa são luminosos dentro de mim. Infinita festa, lustres de cristal balançando o tempo. O tempo que não existe na pausa do tinto, vinho que me entorpece, me amanhece. Sou alvorada. Não concordo com o este isto, este lixo que põe tudo a perder nas beiras.
Extravagância, a desenvoltura do movimento que acelera gravitando a poética do que não ouso declarar. _ tanto riso nesta esfera, a evolução da fantasiosa realidade.
Assim chuva, vento, me torno sol por um momento para ofuscar memórias que dilaceram pelo prazer de incomodar.
Soa alto o meu mundo nos olhos brilhantes vistos no espelho, apenas um descobrimento de tudo que posso e sou nesta inocência que ri, neste querer que divaga buscando no ar, no olhar de um ser perdido, um par para brincar de amigo.
Roda de dedos a se enroscar nos meus cabelos, lábios que se ajustem a mudez da alma acontecida, pernas que se acariciem mergulhadas em selvas, lençóis, mares. Pernas que se enlacem. Pernas que de braços dados caminhem.
Só agora entendo o querer um companheiro, um simples desejo de mulher marcada pelo drama de relações surpreendentes, derradeiras, efémeras, proibidas, delicadas, legítimas, intensas.
A casa natural do amor, de beleza parada no tempo do jazz, nos resguardos, no âmago do tesão de acreditar. Porque a vida é assim, um sempre pode, um querer viver, um soltar-se anjo, um virar-se brava mulher que se diverte, quer, se entusiasma, afogueia e ri.
Ri da vida e seus despropósitos. Ri com este deus nada sério que a chama de querida querubim enquanto lhe assopra as asas de penas de cisne e lhe toca o corpo com a brisa cetim.