quarta-feira, 3 de março de 2010

Infinitas canetas entrelaçadas



Ilustração-Andrzej Krauze

Escrevo debruçada nas páginas de um livro incompleto.Vivo o tempo das coisas que não tem fim.
A casa,a minha casa,meu ambiente seguro,atmosfera que nutre os acertos e o relax quando me retiro do estar lá fora...onde não existe "de mim".Tempo de fiar,necessário tempo brando,amor sem mistério nem amor é .É um vazio só.
Aponto devagar o lápis de cor para colorir meus suspiros,os ais antigos,as lembranças molhadas na xícara de chá.
A caneta e o papel me servem aqui e ali quando me torno uma orgia de palavras estonteantes que giram buscando ordem,orientação segura,rumo do dizer.Aos poucos vão se alinhando submissas à informações velozes,energia do sem assunto surpreendentemente vivo.
Simples exercício espiritual,assim é esta escrita que tira do ar o fôlego de sete vidas.
Avança,a escrita,em busca de algo maior que a existência.Ritual que sucede a leitura dos livros espalhados pelas superfícies de mesas,aparadores,sofás,cabeceira da cama.O futuro não tem garantia.Deixo-me neste estar sem culpa,neste ser sem fronteiras.
Aparição solta no cenário,paisagem de pessoas,palavras,textos em fragmentos,super colagem
do que me habita.Sei da vida pelo aroma do perfume que exala do meu corpo.
Posso neste espaço inquieto ,silencioso e fugidio alimentar com meus lábios a pele da boca de pessoas queridas dimensionadas em afeto no trailer da minha cabeça livre.Beijo homens e mulheres com a transparência da saliva iluminada.
Destino sem definição diz-me que sou predestinada a fazer deste ócio abençoado a minha sorte.
Vago feito anjo dominando o espaço,entrando em lugares proibidos,salas secretas,seres aprisionados em crenças limitadoras,visito almas puras das crianças e brinco de ser feliz.
O tempo é este agora sucessivo,amplo nas asas que navegam pelos sonhos e possibilidades.
Fantasias mil,posso tudo,valho quanto vale a minha liberdade.
O telefone toca e me tira deste devanear absoluto,caio em mim no sofá ocre e confortável,
passo a ver-me neste momento de crescimento como espiar o bolo crescendo no forno antes de espetar o palito para ver se esta pronto.Debruçada como se possível sobre a própria barriga
asculto-me como os antigos médicos ouviam o pulsar do bebe que se fazia no ventre da mãe.
Parto de mim em um fantasma esvoaçante,nebuloso,ectoplasma a brotar do umbigo.Eu de novo ,de novo em jeito novo.Uma mulher em construção,as curvas do corpo,novas e gostosas de pegar quando me revelo ao espelho de corpo inteiro-me faço além em outra arquitetura e geometria,preparada para as fotos onde me reconheço inteirinha e quero me aprisonar para deter no papel o tempo dessa imagem de mulher que me encanta.Gosto do que vejo.Não sou ficção embora obra de ficcionista.
Vou me integrando,reconhecendo partes,em espectativa pelo que está por vir.Minha visão particular,meu retrato da intimidade.
A presença vital,humana,Transformando e sendo transformada pela vida.Novos significados,o mesmo visto sob novo ângulo,um novíssimo olhar vivo em encantamento.O corpo como cenário de uma escola.Despojamento e entrega a este estado lânguido é conquista.Um olhar virgem,ávido de novidades ainda tremo e sinto frio na barriga.Um olhar que quer contar histórias.
A boca silenciosa,a mão direita ágil no fazer vibrar letrinhas no papel,depois os dedos no teclado e a caneta em suspenso no ar.
Me permito a luta pela tranquilidade,ainda que reine o caos permaneço em paz.Tudo é harmonia.
Alterno águas em banho frio e escalda pés.Isso é bom.