
Ajo sobre o verso nu
do todo uno,
corpo amado
Aspiro a entrega
do tremer da pele
desdobro-me em ser e sou
Tudo pode
neste lugar primeiro
do planeta
Traços de nós
ascendendo ao cosmos
no respirar da festa
girando íntima
por entre os símbolos do quarto
ânfora grega
luz pálida do abajur amarelo
exóticos souvenirs
Santa guerreira
o mudo dinheiro
almofadas macias
recosto de inúmeros planos
lassidão de deserto
à sombra das palmeiras
além dos desejos do corpo
as lembranças hoje
são miragens
do arquivo de voyer
excitantes paisagens
somos assim
o veludo tímido transformista
entregue a carícia
do amanhecer
Livros,charutos,uma certa desordem transpira vida na sala.
Ela o recebe vestida.Bem vestida.
Suas roupas exibem elegância e ousadia.
O carrilhão toca e avisa o tempo,os números em algarismos romanos marcam as horas.
Por vezes a poesia em preto e branco.
Hamlet,3° ato,cena 1
Ser ou não ser
Eis a questão
(To be or not to be
This is the question)
O viver mecânico,a repetição das horas e dos dias.As lentes do óculos de grau.
O olhar míope dele a investiga de pertinho.
Os olhos buscam apertados o que não se vê de pronto.Os olhos para olhar respiram a aura da pele perfumada.
Frente a frente.Silenciosos
Apenas vim para te ver.Ele diz.
Ela assente com a cabeça.
Êle a penetra longamente com o olhar.Envolvido pelos mistérios sem decifrá-los.Tomado pela presença da mulher à sua frente.
Ela de olhos baixos, caminha até a cadeira de espaldar alto.a coluna ereta.
Pode ficar,ela diz.
-Mas não me toque baby.
Fique à vontade.Sirva-me champanhe.Quero bebericar.
Quieto! bem devagar.
Quieto! sua voz é imperativa.
O biombo em branco e preto delimita o espaço exíguo.
A mínima calcinha de seda mole e macia enroscada no tornozelo esquerdo.
Pode olhar.
Só olhar.
Não me toque.
Beije-me sem me tocar.
Tenho a vulva quente e húmida.
Vem cá,passe os dedos devagar por entre as minhas coxas.Bem devagar.
Você é tão doce.Sweet baby.
Ajoelhe-se e pinte com batom vermelho o meu sexo.
Agora beije-o demoradamente.
Colha o sal na sua boca.
A partir de certo ponto não há mais retôrno.O que fica além dos limites é o descarnar-se das coisas e sentimentos.
Quantil ôco preenchido com água fresca borbulhante
Aquilo que se situa no umbigo é sensação de insaciável liberdade.
Gosto de viver.
Vôo cego.
O inevitável caminhar pela atmosfera vazia,quase morte.