É na cama, entre as almofadas, estirada sobre o cobre leito, rememorando episódios que tomo plena consciência do meu papel em sua vida.Sei ser a possível saída para seus dias cinzentos.As fichas caem na minha cabeça e ouço até o barulho das moedas como em um pandeiro cigano.Esta realidade que assunto com os meus lacinhos tem em si lados contraditórios,um painel de alegorias.Divago naquele dia,naquela noite,o encontro,o riso,a naturalidade cúmplice...Estradas e paredes que nos separam não têm a menor importância.Seus olhos no vazio,a ocupação severa com a crise,com a grana que torna seu cenho carregado,sua expressão cansada,o semblante triste me deixam desolada.A impotência reside nas dores que não consigo abrandar,na fome do espírito que não tem alimento que baste,na volta aos padrões mecânicos e tediosos que prenunciam o fim.O drama é quando esta história de amor se transformou em território comum,tendendo a artifícios,saturada pelo tédio de ter que estar em uma posição conformista.Não dou conta deste "tem que amar".
Perdemos o clima transgressor,corro o risco de virar a esposa.Tudo que não quero,papel que com você eu não consigo me ver.Corações com tinta azul,nada apaixonante,o risco de nos tornarmos mais um casal neurótico invadidos nesta nossa intimidade estimulante.Abertos ao desconforto asfixiante de seu estilo precário de vida baseado nas aparências,vinculado aos padrões da hipocrisia e pendendo ao desequilíbrio entre o que se diz e o que se vive.
A ducha no corpo quente.
O telefone insistente.
O cão suspira como um gato.
O espelho confirma as formas,as mãos buscam sensações,carinhos,passeio pelo corpo sonolento.
As emoções escondidas,a busca por um amor sereno.Nós imagens refletidas no espelho,seres ocultos atrás da tela transparente.Sombras que constroem um universo de tangências e espaços
alongados em distância.
(Ela escreve versos.Separados não se esquecem,continuam se amando.Conversas que não dizem,olhos que se evitam,esquivam-se da dor.Protegem as cicatrizes com bandaid invisível.
As viagens a tornam um ser em trânsito,eterna mutante,entregue a própria sorte.O fado a música triller do destino é o ponto de constância).
Lá um dia ele irá chegar com prenúncio de fim.Sem palavras porque espera que eu as diga ou delicadamente coloque as palavras em sua boca.Sem confrontos e palavras ásperas,lhe daria a benção do "tudo bem" e ele se sentiria menos mal.
Sei que vai acontecer e esta incerteza cruel me leva a precipitar os acontecimentos.Na verdade devoro a isca de seu mutismo por não saber conviver com a incerteza.
Eu tão livre me acostumei a previsibilidade confortável deste homem,seu apoio,sua generosidade provedora.
O alarme disparado,as sensações esclarecem o que sei e não quero admitir.
De novo solta no universo do acaso,encontros aleatórios,tangências de intelecto.
Regular é o horário de levar o cão para passear.A parede vermelha da sala é constante no momento em que chego em casa.
Adenso o território da escrita,adentro à alma buscando nos caminhos abstratos a rota de fuga,nunca igual,nunca a mesma.O vitral gótico dos fragmentos das histórias amorosas.Tento a cor única,um campo de Provence,lilás líquido.Artesã de pigmentos,nuances de amor e liberdade.Estratégia de brincar de contente para não esmorecer.O azul deste céu não é habitável onde pássaros de acrílico movimentam em gestos de ar plumagens de neon.
Impotente assisto a destruição dele e de sua família disfuncional alimentando condições sem condições de verdade.O supérfluo,o eterno faz de conta,a brincadeira diária de contos de fadas.A embriagues da ilusão.É assim o reino da desmedida fantasia.O jeito que encontraram para o crescimento torto originado pelo medo de perder as posses, o incentivo pela subida social para manter o padrão estabelecido.E eu voyer da queda vertiginosa de um homem bom.
Tento me manter a parte,mas seu abatimento é triste de ver.Penalizada em presenciar o declínio
do organismo vivo em um quadro de natureza morta.
Urgência de renovação. Sigo o meu caminho. Só. Abandono a doçura acolhedora dele amante, consciente de que é o melhor a ser feito. Cubro-lhe de gratidão e, Querubim, intercedo amorosamente para o céu aberto em seus caminhos. Deixo-lhe o livro de preces.
O alívio de me sentir com forças para mudar o rumo sem olhar para trás. Sem despedida. Sem lamento. Chega. Não posso pactuar com o desajuste a pobre vida rica. O fim é natural. Fui honesta.
Depois de uma vida de silêncio e traições quem sabe agora ele retome a sua vida com mais verdade. O único caminho possível para desfazer a armadilha. Quem sabe ele recupere seu equilíbrio e com clareza conquiste a sua libertação.
A vida sempre reserva mais surpresas do que se pode imaginar.
Aprendo que adeus significa adeus. E dói.
23 comentários:
A vida está sempre nos reservando a cada momentos novas surpresas. Além dos mistérios que envolve nossa existencia.
Bjs
Como sorpresas tienes tus escritos..
Maravilloso.
Saludos fraternos
Un abrazo
Adeus é lâmina que gera medo, dor, sangue - tudo de mentirinha...
Bom dia , Cris!
Como eu aprecio talento... como eu aprecio o teu talento...
Cris,
Esse é o final de um relacionamento, no qual as duas pessoas já estão separadas pela ausência do amor.
Hermam Hesse diz, no seu livro, Para Ler e Pensar:
"Dar sentido à vida é missão do amor. Vale dizer: quanto mais somos capazes de amar e de nos dedicar a alguém, tanto mais plena de sentido se torna nossa vida".
Abraços,
Pedro.
Olá Cris!!
Adoro sua sensibilidade.
Adoro sua entrega, sua sutileza.
Você coloca em palavras o que sentimos e não conseguimos traduzir...
Beijokinhas
"adeus cinco letras que choram num soluço de dor", ja disse o poeta
Beijos
Cito Aldir Blanc: "Recomeçar, recomeçar feito canções e epidemias..."
Corajoso escrever sobre o adeus. Valente o coração que explora bem lá no fundo a dor do final.
Continuas escrevendo maravilhsoamente, Cristina.
Estava com muita saudade.
beijão, moça.
Rossana
e, então renascer a cada dia, como um raio de sol no explendor da manhã, anunciando a glória de um novo tempo.
Bjs.
Oi, Cristina;
Esta bela "Crónica de um Adeus Anunciado", é uma grande homenagem à nossa literatura, pelo seu conteúdo e pelo sentimento gramatical que nele se insere.
Há um certo abandono de paixões vividas, como uma solução para extrair da memória, momentos em que a memória jamais os esquecerá.
Bela Crónica de poesia.
bjs
Osvaldo
Cris, como estás nessa tarde ensolarada? Aqui, pelo menos, os reflexos irisdescentes brilham e rebrilham em cada prisma, é lindo esse prenúncio primaveril.
Embora um pouco exausta por estar pintando minha casa...tudo revirado, ao avesso, você sabe, sinto-me envolvida por cada parágrafo que leio e absorvo em seu texto, mas o final é quase fatalista e trágico: "Aprendo que o adeus significa adeus. E dói."
Verdadeiro, mas na sua escrita torna-se aceitável.
Te admiro demais, amiga!
Obrigada e uma semana muito inspirada!!!Bjsss
Olá Cristina. Venho retribuir a visita. Voltarei.
Na verdade você está caminhando.
Acolha-se e recolha-se de verdade nos tons do lilás.
Encharque-se de alfazema ou lavanda.
São as essências consideradas "mães" - que promovem bem estar.
Bem estar é tudo.
Mesmo que doa.
Incoerência sim mas o que não o é?
cris, amei o blogue, volto com mais vagar.
'brigadim pela visita...
abç
Oi Cristina,
Agradeço a visita e fico feliz por ter apreciado o meu blog.
Bom, convite aceito. Conheci todos os seus blogs, cada um é uma gota da mesma essência de um mesmo frasco, chamado Cristina. E que aroma gostoso...
Beijos e lhe aguardo para outros cafés e bate papos...,
Ana Lúcia.
PS: Vou linkar o seu blog Cristina Siqueira.
Às vezes, é preferível amar somente a si própria, afinal, este é o único consolo diante tantas dores de amores incertos...
Beijos com carinho,
Ana Lúcia.
Olá !
Belíssimo texto...quanta inspiração
adorei.
Beijos,
Cibele
Cris querida...
Um amor não correspondido eu não chamo de amor...pois ele nos machuca, linda mulher...
Belíssimo texto...
Parabéns e um lindíssimo final de semana para vc!
Um beijo com amor...
Biazinha
El amor resulta incierto, si en su terapia los sentimientos no so compartidos, con la misma intensidad, las replesarias inevitables son un abismo de total oscuridad. Muy buen texto.
Un saludo
Olá, Cristina!
Adorei o texto.
Adeus dói, sim. Mas , às vezes, é o único remédio que traz a cura. Os demais são paliativos...
Grande abraço,
Taninha
Cristina,
Um texto repleto de emoções...
Gostei muito da forma como escreves!
Beijos...
Deuses... Ninguém segura essa mulher. Ela é livre... ela é do mundo... Não a segurem, porque isso faz mal a ela. Deixe ela trilhar o caminho dela.
E o importante é que ela é verdadeira consigo mesma. Não sei se ela repassa tais sentimentos aos amantes passageiros de sua vida, ou se dá um simples tchal seco e sem sentimento (Privar-se do choro do outro ou do choro próprio, fugir da dor?).
Em todo caso Querida Querubim, você é mulher viva e solta no mundo. Em seu âmago você acredita que pode ser a Rainha de um Rei só... Mais os Reis não a tratam como a Realeza que você gostaria de ser tratada. Logo você usufruí enquanto há chama, usufruí enquanto há vida... e aqueles que há usam com desejos e volupias somente, esquecendo do coração fica logo óbvio que tais sentimentos são importantes demais para serem esquecidos.
Ainda que aquele tenha aproximado ainda que fisicamente (Beleza exterma), ao Deus grego sonho de todas as mulheres... Falta-lhe o coração que vai LIBERTAR a Querida Querubim de suas amarras mentais.
Sim... porque ela está presa num círculo vicioso de pegar e largar. Não é culpa dela se os Reis não a tratam como uma Rainha.
Esse é o desejo de toda mulher... Cravejada em jóias e mimos eternos, onde ela possa retribuir seu amor com bastante desejo e volupia.
Malditos sejam os homens do novo tempo. Falta poesia.
Direto do Rio. CHEGAAAAAAAAAAANDO.
Beijos moça escritora.
ola cris, maravilhosa sua forma doce ao tratar do amor que se vai.
Vai... para dar lugar ao novo que sempre é melhor quando se inicia, ao longo do tempo sabemos que o processo é o mesmo, ontem eu ouvi uma coisa que achei muito boa, QUANDO A TRISTEZA, A DOR , A PERDA, SEJA LÁ O QUE FÕR BATER Á SUA PORTA- ABRA -.
PARABÉNS PELA LEVEZA D!alma, cris.
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