segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Querida querubim-Amar é o que amplia meu mapa humano

Nem sempre compreendo o que faço.Torno-me outra quando leio meus escritos.Leitora ,tomada pelos próprios devaneios e realidades como se esta vida que escrevo não me pertencesse.
Debruçada sobre o papel,papiro da minha alma,relação estreita com o plexo que gera palavras .A barriga aconchego do espírito antes do dar-se à luz em partos em que me desdobro em infinitas outras,todas mulheres.Fantásticas querubins ,escritoras,artistas,resolutas guerreiras,dóceis pacifistas.Aprofundo o olhar sobre a vida e nas perguntas sem respostas.E contudo tudo é tão claro.O poder de deter este tempo,aprisioná-lo em brochuras e brochuras e conservá-lo fixo a espera de que alguém ao lê-lo o transforme magicamente em movimento.Dar o poder ao leitor de viver a fatia do tempo recortado da minha vida.O toque dos olhos do leitor não me pertence e nem o espero mas este acontecer é o que tornará vivo novamente este declarar que encerro aqui.O movimento das palavras,do fazer desse jeito é imortal.A força que percebo quando me extasio na leitura de meus gestos inconclusivos.Na vida sempre fica um bocadinho para se viver amanhã.A cada dia a vida pede um tempo.Se vive a véspera.
O mundo é primitivo,civilizado, instigante,surpreendente trilho o caminho da aventura para me sentir livre,independente.Esta rota para mim é segura,antiga conhecida,rumo do acaso e da sorte.Conexões estreitíssima com a natureza que contemplo,com o cão companheiro fidelíssimo, plateia do dormir e do acordar.Os livros que me aguardam na estante,os jornais diários,as pesquisas que me lotam em conhecimento,os contactos virtuais.Escrevo e vivo.Tudo junto,tudo agora.Eu e eu o tempo todo sem me cansar de mim,pelo contrário adoro a paz da minha companhia.Sem solidão.Disponível ao bom ,ao bem a tranquilidade e a criação.
Os semelhantes,estes seres ricos em seus universos particulares,estas almas transbordantes em singularidades.
As aproximações formam uma família estreita,explosiva em elos luminosos do valor de cada um,são como fogos de artifício que espocam cintilações na noite escura e concorrem em brilho com as estrelas,são os amigos,as pessoas afins,minha família amada.
Nem sei o que sei e pouco me interessa quando disparo com a esferográfica preta só Deus sabe o que não sei.
A vida,o encontro com o improvável,quem sabe amanhã amarei novamente alguém de um outro jeito,com novos encantos.Que tola sou,é claro que amarei.Amar é o que amplia meu mapa humano,o incentivo,o sentido.
A interpretação aberta onde tudo pode na realidade articulada que crio para viver.Tenho esta virtude de criar e fazer valer o que admiro e acredito.
Reflito com compaixão sobre a realidade das pessoas,a doçura ou o fel do alimento espiritual,a leitura piedosa do outro me presenteia com serenidade,coragem,estímulo para seguir em frente.
Estar acima da mera representação do que é real.Atenta,presente,armada para o escape das incertezas.
Estar acima mas sem a noção do espaço determinado.Acima como condição de voo e assim mergulho é também estar acima também é voo.
Coleciono instantes,a balburdia inconclusiva da vida arteira.Tomada pela paixão do fazer artístico da literatura artesanal me dedico a organização do caos e tornar visível o imponderável em para sempre.
A vida é para sempre.
E me surpreendo escrevendo assim com esta capacidade imortal e transcendente.Meu território flutuante,instável,líquido , água.
Bebo dessa fonte e saboreio a minha fatia de vida autonoma,a sintonia com quem realmente sou.
O tempo passa quando eu não olho para ele.
Os escritos serão diferentes quando eu os ler daqui a cinco,dez,vinte anos.E muito terá se passado.Mas o que importa é para onde eu estou me dirigindo agora.O único domínio é o da minha consciência.Trago a vida para o centro do coração a medida em que vou me
recolhendo,encolhendo no exercício de me recriar.Os primeiros exercícios da transformação em andamento,arrumo a casa e as lembranças importantes..Quero tudo ao mesmo tempo .Tanto há a ser feito.

sábado, 15 de agosto de 2009

Querida Querubim-Segue o seu caminho. Só.

É na cama, entre as almofadas, estirada sobre o cobre leito, rememorando episódios que tomo plena consciência do meu papel em sua vida.Sei ser a possível saída para seus dias cinzentos.As fichas caem na minha cabeça e ouço até o barulho das moedas como em um pandeiro cigano.Esta realidade que assunto com os meus lacinhos tem em si lados contraditórios,um painel de alegorias.Divago naquele dia,naquela noite,o encontro,o riso,a naturalidade cúmplice...Estradas e paredes que nos separam não têm a menor importância.Seus olhos no vazio,a ocupação severa com a crise,com a grana que torna seu cenho carregado,sua expressão cansada,o semblante triste me deixam desolada.A impotência reside nas dores que não consigo abrandar,na fome do espírito que não tem alimento que baste,na volta aos padrões mecânicos e tediosos que prenunciam o fim.O drama é quando esta história de amor se transformou em território comum,tendendo a artifícios,saturada pelo tédio de ter que estar em uma posição conformista.Não dou conta deste "tem que amar".
Perdemos o clima transgressor,corro o risco de virar a esposa.Tudo que não quero,papel que com você eu não consigo me ver.Corações com tinta azul,nada apaixonante,o risco de nos tornarmos mais um casal neurótico invadidos nesta nossa intimidade estimulante.Abertos ao desconforto asfixiante de seu estilo precário de vida baseado nas aparências,vinculado aos padrões da hipocrisia e pendendo ao desequilíbrio entre o que se diz e o que se vive.
A ducha no corpo quente.
O telefone insistente.
O cão suspira como um gato.
O espelho confirma as formas,as mãos buscam sensações,carinhos,passeio pelo corpo sonolento.
As emoções escondidas,a busca por um amor sereno.Nós imagens refletidas no espelho,seres ocultos atrás da tela transparente.Sombras que constroem um universo de tangências e espaços
alongados em distância.

(Ela escreve versos.Separados não se esquecem,continuam se amando.Conversas que não dizem,olhos que se evitam,esquivam-se da dor.Protegem as cicatrizes com bandaid invisível.
As viagens a tornam um ser em trânsito,eterna mutante,entregue a própria sorte.O fado a música triller do destino é o ponto de constância).

Lá um dia ele irá chegar com prenúncio de fim.Sem palavras porque espera que eu as diga ou delicadamente coloque as palavras em sua boca.Sem confrontos e palavras ásperas,lhe daria a benção do "tudo bem" e ele se sentiria menos mal.
Sei que vai acontecer e esta incerteza cruel me leva a precipitar os acontecimentos.Na verdade devoro a isca de seu mutismo por não saber conviver com a incerteza.
Eu tão livre me acostumei a previsibilidade confortável deste homem,seu apoio,sua generosidade provedora.
O alarme disparado,as sensações esclarecem o que sei e não quero admitir.
De novo solta no universo do acaso,encontros aleatórios,tangências de intelecto.
Regular é o horário de levar o cão para passear.A parede vermelha da sala é constante no momento em que chego em casa.
Adenso o território da escrita,adentro à alma buscando nos caminhos abstratos a rota de fuga,nunca igual,nunca a mesma.O vitral gótico dos fragmentos das histórias amorosas.Tento a cor única,um campo de Provence,lilás líquido.Artesã de pigmentos,nuances de amor e liberdade.Estratégia de brincar de contente para não esmorecer.O azul deste céu não é habitável onde pássaros de acrílico movimentam em gestos de ar plumagens de neon.
Impotente assisto a destruição dele e de sua família disfuncional alimentando condições sem condições de verdade.O supérfluo,o eterno faz de conta,a brincadeira diária de contos de fadas.A embriagues da ilusão.É assim o reino da desmedida fantasia.O jeito que encontraram para o crescimento torto originado pelo medo de perder as posses, o incentivo pela subida social para manter o padrão estabelecido.E eu voyer da queda vertiginosa de um homem bom.
Tento me manter a parte,mas seu abatimento é triste de ver.Penalizada em presenciar o declínio
do organismo vivo em um quadro de natureza morta.
Urgência de renovação. Sigo o meu caminho. Só. Abandono a doçura acolhedora dele amante, consciente de que é o melhor a ser feito. Cubro-lhe de gratidão e, Querubim, intercedo amorosamente para o céu aberto em seus caminhos. Deixo-lhe o livro de preces.
O alívio de me sentir com forças para mudar o rumo sem olhar para trás. Sem despedida. Sem lamento. Chega. Não posso pactuar com o desajuste a pobre vida rica. O fim é natural. Fui honesta.

Depois de uma vida de silêncio e traições quem sabe agora ele retome a sua vida com mais verdade. O único caminho possível para desfazer a armadilha. Quem sabe ele recupere seu equilíbrio e com clareza conquiste a sua libertação.

A vida sempre reserva mais surpresas do que se pode imaginar.

Aprendo que adeus significa adeus. E dói.

sábado, 1 de agosto de 2009

Querida Querubim-Cinza chumbo


Em mar cinza chumbo
fez-se o destino
rasgo negro nanquim
galho de forquilha
talho seco

Mais ali,rocha imensa e fria
o olho pulsa entre o céu e a terra
rasgo rente ao chão
areia de deserto
ínfimo grão

meu peito é leito
mar
ouro inverso



Gostaria de conversar um pouco.
Usar parte da vida,do céu,das aves para contar uma história.
Nós nunca mais seremos os mesmos.A fuga te raptou.
É uma pena.Amor quando dói dá sinal que esta vivo.
Me perdi no seu enigma.
Seu rosto de fragmentos.Sua história de evasivas.
Temos que conversar.Sem palavras.
A lua nova guarda um grande segredo.
As cortinas da sala,claras,vaporosas.
Vou até Plutão e na volta gostaria de encontrar uma estrela.
Gosto da ideia de experimentar coisas novas
Desfilar visões e desejos,uma ilusão e um sonho.
E as vezes gostaria de repetir o abrace-me como se me amasse.
-Como vai a vida?
Soaria falso.
-Como vai você?
Seu rosto severo revela parcimônia e vazio.
E me dispo da camisola francesa.
O modo como vivo a vida com retalhos de algodão.
Os olhos de laser que veem a vida atraves do que não foi visto.
Ouvidos que ouvem o que não foi dito.
-O que será que eu busco em um homem?
Peço companhia aos céus.
Alguns homens choram lágrimas sentidas.
Alguns choram por dentro.
Outros são frios metalizados.
E tem aquele da superfície que com certeza pensará:- estará ela nua por baixo da roupa?- estará vestindo roupa íntima sensual?
Não posso esconder sentimentos.
O martírio da dúvida?-como separar vidas entrelaçadas?
História que parece roteiro de filme
Obra de uma cabeça que não para.
Padeço de febre setena com acessos na sexta-feira.
Amizade é o valor que perdura.Amor é o que pulsa devagar e sempre.
Paixão é esta nausea com o estõmago vazio.O quero não quero.O posso não devo.È o pulo para atender o telefone...mudo.A contradição entre o que digo e o que admito.O limite frouxo para a falta de limite.Atração que vibra além de um fraco não.
Droga!
A briga é uma asneira que se cristaliza de forma dramática.O silêncio corta.
Palavras de aço afiado,rápidas em riste ,se atropelam para julgar.Dizem o que não viram.Se enredam na fertilidade da imaginação.Sabotam.Esquentam.
Privação do corpo.
Provação da alma.
Eu não tenho voce,espaço em branco...Ai escrevo poemas.
Ausência de cor.
O encontro do prazer suspenso.

Não dá para viver sem amor.
Ouço uma música triste.
É como se existisse fumaça
de papéis,músicas,beijos
que morrem em fogo ardente
é como se a vida se tornasse cinza
e a voz que não diz
é um eco estranho do passado
ligeireza da vida
roubando do tempo o tempo da dor.


Preciso de 5 minutos
para apanhar o destino
Preciso de 5 minutos para retocar a vida
e partir.