quinta-feira, 20 de maio de 2010

Viagem- Sul da Espanha-Granada-Alhambra


Além do que vejo
eu vejo coisas
que me projetam longe
mais longe
do que as coisas que vejo

E,sem ver as coisas que vejo
com olhos ébrios de céu
acrescento luzes de entendimento
as coisa que nunca vi
e ,as que vi sem ver

É um jogo
além das palavras
um fio que escapa
do que existe
e do invisível
da não existência

É sem pensar
no fundo,do fundo,
no fundo escuro do rubro vinho a pulsar

O que sustenta o que não pensa
é vago
e por ser vago
é quase um não estar
é estar apenas testemunha
do tempo a passar



Quando em viagem penso através do movimento.É um ir,mero pretexto de entrega ao fluir do destino.
Livre.Reajo a energia do próximo passo,a eminência da próxima paisagem,aos encontros surpreendentes.É chance de testar minha capacidade de orientação,organização de espaços,distribuição de peso na bagagem,parcimônia na escolha do figurino que tende a ser básico,prático,absolutamente elegante.Singular.
E,como tudo pode acontecer sem o apoio dos meus amados por perto,sem a confortável sustentação do dia a dia torno-me expert em improviso.Viajar me põe esperta,atenta,sou figura,esboço no horizonte de quem fica.Querente de algo que nem sei o quê.Cheia de ânimo e de curiosidade desbravadora.Há de se ter noção de rumo e fronteiras.Abolição dos limites do tempo.Rejuvenesço a cada crepúsculo distante.
As entradas sempre à brasileira com humor e simpatia e as saídas sempre discretas,à francesa.Viajar é arte intensa.
Sigo fiel à causa da cultura independente,viajo do jeito que dá e chego a espaços inalcançáveis

Não sou,nem estou,eu vou.

Movida pelo tudo pode no inusitado.Feita de instinto me interesso por gente,cultura,ouço a linguagem viva das ruas,longos passeios a pé me tornando quase que pessoa daquele lugar.

E,assim ,me amplifico,salvo-me do estado parado e no que não tem forma crio identidade.Cada viagem um marco no caminho.Eu nova de mim ,feita de bagagem invisível.
-Por que resistir aos fatos se posso vê-los à distância e torná-los menores do que parecem a um palmo do nariz?
Permanecer ausente do espaço nativo,longe das pessoas a quem nem tenho mais nada a dizer de tanto que as conheço.Imersa no gozo de pensar o amor e esperar pelo prazer do próximo encontro,revigorado.

O universo provê tudo quando me lanço ao rumo sem rumo do destino.Surgem novos paradigmas,cultivo a flexibilidade essencial para manter-me viva.Amizades estimulantes,pessoas que permanecem na memória,homens instigados e seduzidos pela aura do efemero.Fantasias se abrem na mistura de liberdade e intensidade do acontecer.
Em viagem o agora é urgente.A escolha nem sempre é possível entre o real e o imaginário.A mente fica atenta,preparada a ocupar seu lugar no discurso analógico das coincidências.
A estrada é o destino mítico,nascente da poesia,lugar onde atraio semelhantes.Descubro a felicidade por acaso.A alma expressa-se em incontida performance de liberdade e tudo é mais fácil do que parece em caminhos reais e atalhos sem fim.
As pessoas são figuras contra um céu azul onde escrevo em águas fortes que com o tempo se diluem em névoa e registros em fotos e cartões postais.
A solitude me dá a sensação de independência e o longe faz vibrar a saudade.

36 comentários:

RENATA CORDEIRO disse...

Lindo! *A alma expressa-se em incontida performance de liberdade e tudo é mais fácil do que parece em caminhos reais e atalhos sem fim8
Beijos*****

És ao mesmo tempo o céu e o ninho.

Meu belo amigo, aqui no ninho,

o teu amor prende a alma

com mil cores,

cores e músicas.

Chega a manhã,

trazendo na mão a cesta de oiro,

com a grinalda da formosura,

para coroar a terra em silêncio!

Chega a noite pelas veredas não andadas

dos prados solitários,

já abandonados pelos rebanhos!

Traz, na sua bilha de oiro,

a fresca bebida da paz,

recolhida

no mar ocidental do descanso.

Mas onde o céu infinito se abre,

para que a alma possa voar,

reina a branca claridade imaculada.

Ali não há dia nem noite,

nem forma, nem cor,

nem sequer nunca, nunca,

uma palavra!

Rabindranath Tagore*

Felicidades, querida Cris!
Muito obrigada.
Até+++++++*****************
Renata

Greener Bangalore disse...

lovely! and you look awesome in that red :)

José Carlos Brandão disse...

As palavras viajam
no vinho do tempo.
Naufragam, perecem,
ressurgem mais vivas que nunca.

Anônimo disse...

Oi Cris,

Como é bom vir aqui..., ler esses seus textos repletos de sua alma crítica e doce.

Linda viagem essa, você fez. Imagino apenas por meio dessas suas palavras.

Beijos grandes e bom final de semana,

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Cris, é sempre com enorme prazer que visito este teu belo espaço...belo texto...bela viagem...Espectacular....

VIAGEM-SONHO

Wanderlino Arruda

Hoje meu coração tem leveza de luz,
claro e cintilante
como brilho de praia...mar
em tarde sem nuvens.
O vermelho é ouro de vida e valsa.
Luminescência de amante estrela
em vento leste no signo de Câncer.

Hoje meu coração entreabre desejos
com presença e ausência
na floresta de músicas perdidas
em céus de primeira hora.
O vento é fluir de sonhos
porque o frio busca o acalanto,
e os braços enlaçam destinos
entrevivendo caminhos:
dança e manjar de deuses.

O oceano perfuma a madrugada azul,
a superfície cheira e é doce.
Ondas espelham indulgência e sorrisos
que balançam a ternura minha e tua.

Suave é o deleite.
Por que todos os momentos não são de alegria?
Chega de busca insolúvel,
fiquem longe os gestos improváveis.
A glória nasce de imagens barrocas,
não passa da Primavera,
mas é visível no amanhecer

Um beijo pra você querida

lino disse...

Excelentes, poema e texto. Já corri vários cantos do mundo, de Kansas City a Hong Kong, já passei duas vezes por Granada e não me deu para parar para ver. Algum dia será.

Beijos,

PS: Passo por cá todos os dias, amigona :))

aapayés disse...

Suspiros nacen al leerte..

Con un poema así.. se sonríe por siempre el alma..

Bello como siempre..


Por problemas con mi ordenador no había podido visitarte.


Lo siento..
Un abrazo
Con mis
Saludos fraternos...


Que disfrutes de un buen fin de semana... mis mejores deseos..

Estela disse...

Linda a poesia, lindo o texto.
E a foto está linda, o vestido vermelho te caiu bem, como uma flor que se destaca na folhagem verde.
Como é bom viajar! Como um pássaro, planando sem rumo certo...

Bjs.

Unknown disse...

Cristina, quanta admiração tenho pela profundidade de tuas letras, tão intuitivas, pensantes, posso até dizer das inspirações que de algum lugar além te chegam.
Maravilhosa expressão de formas, de sentidos, entre vagos e constantes delírios...
Amo ler-te
Feliz Domingo
Bjs
Livinha

cirandeira disse...

Cris, Crisântemo!
Que bela viagem, e como estás mais inspirada, mais renovada! Viajar
é bom demais...!
Ainda estás na Espanha, ou já estás na "terrinha"?
Tuas impressões, sentimentos e sensações deixaram-me com uma vontade daquelas de alçar voos.
Obrigada pela visita e pelo carinho...!

Um beijo e bom final de semana

AL disse...

" um coração vivo
palpita em sístole
e diástole. "

a sua escrita, tal como as viagens, expandem-se em plumas
ao sopro das Graças.

beijo.

Cristiana Fonseca disse...

Olá Cristina,
Lindo lugar, lindo verde pintado pela natureza.
Maravilhoso texto poema.
Beijos,
Cris

M.PAUMARCH disse...

Cristina, gràcies per visitar-me. Sé que vas estar malalta, i et vaig escriure, però no em vas respondre.
Agraeixo també que encara tinguis el meu "eclipsi" en el bloc. Jo he tingut, i encara tinc, una època molt seca, sense creativitat, sense idees. Ja passará...

Um abraço des de Catalunya.

Unknown disse...

Nova de ti, feita de bagagem invisível: belo texto poético sobre o ir, desbravando, livre, o mundo, sem preconceitos, com abertura total, aos encontros do destino,vistos com olhar novo, sem bagagens de memória.
Bonito de ler.

sueli aduan disse...

"Entrar" no teu bog é ficar cheia de vida, energia, luz, tamanha beleza, poesia, harmonia, confiança,vida, aqui, presente.

Infelizmente o tempo, os compromissos nos impedem, às vezes, de desfrutar dessa maravilha. Voltarei, é preciso :o)
bjus, minha querida.

Vanilda Fiuza disse...

Querida e amada Cris!És elegante e singular. É sempre um prazer embriagar-me um pouco mais com tuas palavras. Cultivo a flexibilidade assencial para mante-me viva.
Receba um grande abraço desta sua amiga.

Graça disse...

Adorei o poema, Cristina! E a tua perspectiva sobre a maravilha que é viajar é muito igual à minha :)).


Beijo meu.

Barbara disse...

Alhambra tem mágica mas estou sendo óbvia.
Continue a viajar assim, fora e dentro, pois gostamos sim.

Oliver Pickwick disse...

Um log board fora do comum, intimista e com a marca by Cristina. Nem Marco Polo faria melhor. E, ainda tem o prólogo poemístico. Cristina-faz-tudo strikes again! ;)
Um beijo!

Noslen ed azuos disse...

..que bom que das viagem procuras tbm o andar por ruas, o observar das palavras de outra cultura, que bom.Viajar é se desencontrar para reencontrar o homem do futuro que com apenas um olhar entende um pouco mais o mundo.

bjs
ns

Clea Pinheiro disse...

que poesia linda Cris!
Uma testemunha atenta, absorvendo... muito bonita mesmo.
Parabéns!

Anônimo disse...

Obrigada pelo gentil comentário, Cristina.

Beijos!

Batom e poesias disse...

Oi Cris
Então é por isso que andava sumida?

Viajar é mesmo tão bom...
Linda foto, lindo poema e o texto então, nem se fala. Bem ao seu estilo que gosto tanto. Seguro, sincero, intenso, sensual e positivo.

Preciso fazer um curso com você. Desde aprender a arrumar malas(caótica), até melhorar minha noção de rumos, limites e fronteiras...
Eu, tão atrapalhada...

Beijão
Rossana

Lu_Russa disse...

Que delícia, Cris !!
viajar é realmente uma inspiraçao !!


( saudades de tuas visitas ! )

bjos e bom final de semana

LuRussa

Vanuza Pantaleão disse...

Estar contigo, Cris, aqui ou na Espanha, torna-se sempre uma aventura na magia de viver e nos encantarmos com o teu falar e é quase cantar, é quase um quadro e, tudo isso, junto, trnasforma-se em Beleza.
Aquela foto, o róseo das vestes e o verde dos jardins de Alhambra, sinceramante, apenas ver e ver e gostar...
Uma gota do meu sangue espanhol se acendeu...
Carinho e muito afeto, amiga querida!!!

Unknown disse...

Cristina!

"Além do que vejo, eu vejo coisas"

Maravilhoso estado de espírito. O bom é que as coisas se transformam neste belo poema.

Parabéns, amiga!

Beijos

Mirze

Edson Bueno de Camargo disse...

Em "carta a um jovem poeta", Rilke nos faz uma pergunta preciosa, Você consegue viver sem escrever? Consegue parar? Há uma linha que ultrapassamos e que não tem mais volta.

nydia bonetti disse...

Que espaço lindo, Cristina. Me fez viajar... bjo.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Granada também gostei muito.Há
uns anos. Obrigada pela ida
ao meu blogue e seu comentário.
Me registei no seu.
Beijinho.Irene

JPM disse...

Olá,
Tive contato com o teu blog no da Adriana Karnal-Poemas.
Agora vim conhecê-lo e seguí-lo.
Desde já és convidada a visitar o meu.
Saúde e felicidade.
João Pedro Metz

Marcelo Novaes disse...

Cris,




Sim. Viajar é uma arte que algumas pessoas dominam.


Regressar, também.






Um beijo.

valterpoeta.com disse...

Olá minha querida,

Eu já conhecia esse espaço seu, inclusive já estou na lista de seguidores. Infelizmente nossa vida atribulada impede que visitemos mos espaços dos amigos diariamente, mas lhe digo que gosto muito de seus blogues, bjs e bom dia!

Pedro Luso de Carvalho disse...

Cristina,

Eis aí mais um belo poema seu, de profunda introspecção, com excelentes imagens. Parabéns.

Abraços,
Pedro.

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Cristina, seu campeão de audiência está cada vez melhor. Seu projeto poético sobre muros é realmente fantástico. Fui lá conferir no seu outro blog. De parabéns! Um beijo grande.

Ahab disse...

Diário da viajante solitária.

Direto do Rio.
Abraço.

Phivos Nicolaides disse...

Eu adicionei o seu blog lindo para a minha lista de blogs. Muitos aspectos, Felipe